Mês: dezembro 2022
O que é infertilidade?
Por Prof. Dr. Gustavo André
A organização mundial de saúde (OMS) estima que 1 a cada 10 casais sofre com infertilidade no mundo todo. Os números atualmente são tão altos, que a doença passou a ser considerada questão de saúde pública mundial.
Apesar de os percentuais demonstrarem que a infertilidade é mais comum do que se imagina, ainda continua a carregar estigmas como falha ou fraqueza, despertando sentimentos como culpa e levando ao desenvolvimento de transtornos emocionais; depressão e ansiedade estão entre os mais comuns, embora a fobia social também figure nos primeiros lugares.
Historicamente, era atribuída às mulheres, que recebiam rótulos dolorosos, aumentando ainda mais o sofrimento provocado pela incapacidade de ter filhos. Porém, sabe-se hoje que os fatores masculinos contribuem em igual proporção.
Por outro lado, desde a Idade Antiga alguns povos, como os egípcios e os gregos, já entendiam que a dificuldade em conceber era um problema médico que precisava ser diagnosticado e tratado.
Ao longo dos anos, com o progresso científico foram delineados os tratamentos iniciais, mas foi apenas no século vinte, com o desenvolvimento tecnológico e avanços nas técnicas diagnósticas, que surgiu uma resposta mais definitiva para solucionar o problema. Na década de 1970, nasceu o primeiro bebê concebido pela fertilização em laboratório, tornando-se um importante marco na medicina moderna.
A técnica que proporcionou esse nascimento é conhecida como fertilização in vitro (FIV), e foi inicialmente desenvolvida para solucionar a infertilidade feminina por obstruções tubárias, uma das causas mais comuns.
A FIV é uma das técnicas de reprodução assistida, especialidade médica que tem como objetivo auxiliar a reprodução humana. Outras duas compõem o conjunto, relação sexual programada (RSP) e inseminação artificial (IA).
Juntas, proporcionam hoje o tratamento de praticamente todos os fatores de infertilidade femininos e masculinos, com sucesso gestacional na grande maioria dos casos, dissipando a percepção negativa sobre o problema.
Este texto aborda detalhadamente a infertilidade, destaca as possíveis causas e os tratamentos disponíveis. Continue a leitura para saber mais!
O que é infertilidade?
Infertilidade é a incapacidade de conceber após um ano de relações sexuais sem o uso de qualquer quer método contraceptivo e sem obter sucesso.
A definição da infertilidade como doença é feita pela OMS, por meio da classificação internacional de doenças (CID), e considera o fato de a fertilidade ser uma qualidade natural, uma potencialidade do organismo que permite a reprodução da espécie humana.
Diferentes condições podem causar alterações na capacidade reprodutiva de homens e mulheres ao interferirem no funcionamento adequado dos órgãos reprodutores. Nas mulheres, por exemplo, podem resultar em distúrbios de ovulação, obstruções das tubas uterinas, e anormalidades uterinas.
Nos homens são mais comuns obstruções que impedem ou dificultam o transporte dos espermatozoides, interferências no processo de produção e qualidade dos gametas masculinos, assim como outras anomalias seminais.
Durante a fase fértil, várias doenças comuns levam a esses problemas. Abaixo, elencamos as principais causas da infertilidade feminina e masculina:
Principais causas da infertilidade feminina
- Idade: a idade é considerada a principal causa da infertilidade feminina. As mulheres já nascem com uma reserva ovariana definida, termo que descreve a quantidade de folículos, bolsas que armazenam os óvulos primários, presentes nos ovários, que diminui a cada ciclo menstrual. A partir dos 35 anos, a queda é mais acentuada, até os folículos se esgotarem na menopausa, quando ocorre a falência da função dos ovários;
- Distúrbios de ovulação: os distúrbios de ovulação são a causa mais comum da infertilidade feminina por doenças. Têm como característica alterações no processo de desenvolvimento, amadurecimento ou rompimento dos folículos, resultando em anovulação, ausência de ovulação, ou oligovulação, ovulação irregular. Geralmente são motivados pelo desequilíbrio hormonal, provocado por doenças como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), distúrbios da tireoide e da produção do hormônio prolactina, além da endometriose, que pode alterar a qualidade da ovulação, diminuindo a produção hormonal que favorece a implantação;
- Obstruções tubárias: a obstrução das tubas uterinas é a segunda causa mais frequentemente relatada. Na maioria dos casos é provocada por aderências formadas pelo processo inflamatório das tubas, salpingite, um dos efeitos da doença inflamatória pélvica (DIP), em que bactérias, entre elas as sexualmente transmissíveis, ascendem da vagina ao útero e se espalham. Ou, ainda, pelo processo inflamatório característico da endometriose;
- Anormalidades uterinas: a endometrite, inflamação do endométrio também consequente da DIP, tende a interferir na receptividade endometrial, provocando falhas na implantação do embrião e abortamento. Endométrio é o tecido de revestimento uterino no qual o embrião se implanta, evento que marca o início da gestação. Os miomas submucosos, localizados próximos ao endométrio também podem causar essa interferência, assim como os pólipos endometriais e a adenomiose (inflamação crônica da parede muscular uterina). Miomas e pólipos, em tamanhos e quantidades maiores podem ainda resultar em distorções da anatomia uterina.
Além disso, a DIP pode causar a inflamação dos ovários, ooforite, que interfere no processo de desenvolvimento folicular e na qualidade e quantidade dos óvulos, assim como as aderências podem impedir ovulação.
Principais causas da infertilidade masculina
Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a clamídia e a gonorreia, podem igualmente provocar a DIP nos homens, cujas consequências são processos inflamatórios como a epididimite, dos epidídimos, orquite, dos testículos e prostatite, da próstata.
A orquite pode interferir na produção dos espermatozoides, espermatogênese, que acontece nos túbulos seminíferos, localizados nos testículos, e na qualidade dos gametas masculinos. Enquanto na epididimite, a formação de aderências impede ou dificulta o transporte dos espermatozoides para serem ejaculados. Os epidídimos são os ductos em que os espermatozoides adquirem motilidade; ficam armazenados após serem produzidos até amadurecerem.
A principal consequência da orquite e epididimite é a ausência de espermatozoides no sêmen, condição chamada azoospermia, que pode ser ainda provocada por uma doença masculina bastante comum, a varicocele, caracterizada pela dilatação das veias do cordão espermático, que drenam o sangue dos testículos.
Já a prostatite pode alterar a composição do líquido prostático, que compõe o sêmen e ajuda na proteção e nutrição dos espermatozoides, levando a alterações na qualidade.
Hábitos de vida, como alimentação inadequada, uso excessivo de álcool ou drogas recreativas, tabagismo, sedentarismo e prática intensa de exercícios físico são considerados fatores de risco para a infertilidade feminina e masculina.
Conheça os tratamentos disponíveis para infertilidade
O tratamento da infertilidade é sempre individualizado, indicado a partir dos resultados apontados por diferentes exames diagnósticos. Inicialmente, tem como objetivo os cuidados com a causa que levou à dificuldade reprodutiva, o que pode ser feito por medicamentos ou cirurgia.
Muitas vezes, apenas as abordagens primárias possibilitam a restauração da fertilidade e a obtenção da gravidez. Quando isso não acontece, as técnicas de reprodução assistida ajudam a aumentar as chances.
Os tratamentos medicamente assistidos podem ser ainda utilizadas como primeira opção, de acordo com cada caso. As técnicas de baixa complexidade, relação sexual programada (RSP) e inseminação artificial (IA), são indicadas para infertilidade mais leve, pois a fecundação acontece naturalmente nas tubas uterinas. Enquanto a fertilização in vitro (FIV), mais complexa, que prevê a fecundação em laboratório, proporciona o tratamento de infertilidade mais grave.
Todas, quando bem indicadas, possibilitam a gravidez. Assim, apesar de todos os estigmas, a infertilidade, hoje, tem tratamento na maioria dos casos.
Compartilhe esse texto em suas redes sociais e informe a todos os seus amigos sobre o que é infertilidade, uma doença que tem tratamento!
Ultrassom na investigação da infertilidade
Por Prof. Dr. Gustavo André
O ultrassom é um exame de imagem não invasivo, que utiliza um aparelho chamado transdutor para enviar pulsos de ondas sonoras inaudíveis e de alta frequência ao corpo. Quando refletem em órgãos, fluidos e tecidos, o transdutor as transforma em imagens transmitidas para um monitor em tempo real.
Os princípios que inspiraram o desenvolvimento da tecnologia são os mesmo utilizados por alguns animais, como o morcego e o golfinho para orientar sua trajetória na natureza, o que é chamado de ecolocalização. Também foram referência para o desenvolvimento do sonar de navios, por exemplo.
O ultrassom é um dos exames mais solicitados no mundo todo, inclusive na investigação da infertilidade feminina e masculina, possibilitando a detecção de diversas condições que podem resultar no problema. Com o desenvolvimento tecnológico, as imagens podem hoje ser geradas inclusive em 3D ou 4D, o que permite uma visualização detalhada da região pesquisada.
Também tem um papel importante nas técnicas de reprodução assistida, auxiliando diferentes procedimentos.
Para saber mais sobre o ultrassom na investigação da infertilidade de homens e mulheres, continue a leitura deste texto até o final, que aborda, ainda, o papel do exame nos tratamentos de reprodução assistida. Boa leitura!
Indicações do ultrassom para pesquisa da infertilidade masculina
Quando há suspeita de infertilidade masculina, o ultrassom é o primeiro exame de imagem solicitado para analisar os órgãos reprodutores masculinos e pesquisar as causas. Dois tipos são geralmente solicitados, a ultrassonografia da bolsa testicular com Doppler e a ultrassonografia abdominal ou suprapúbica.
Ambos utilizam um gel de contato entre o transdutor e a pele, adaptado à anatomia da região, para melhorar a condução das ondas sonoras.
A ultrassonografia testicular pode ser indicada para avaliar condições que podem interferir na espermatogênese, processo de produção dos espermatozoides que ocorre nos túbulos seminíferos, localizados nos testículos, nos casos em que o espermograma indica baixa concentração de gametas (oligozoospermia) ou a ausência deles no sêmen (azoospermia). Entre as detectadas pelo exame que podem causar o problema, estão:
- Varicocele: doença caracterizada pela dilatação das veias do cordão espermático, que sustenta os testículo na bolsa testicular;
- Orquite: inflamação dos testículos, geralmente causada por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a clamídia e gonorreia, que também pode interferir na qualidade dos gametas;
- Torção testicular, rotação dos testículos e o consequente estrangulamento de seu suprimento sanguíneo, o que pode ocasionar necrose no tecido testicular.
Além disso, a ultrassonografia da bolsa testicular pode ser indicada quando há suspeita da presença de tumores benignos ou malignos nos testículos.
Outras inflamações consequentes de ISTS que afetam os órgão reprodutores masculinos, como a epididimite, dos epidídimos, e a prostatite, da próstata, podem ser detectadas pela ultrassonografia abdominal:
- Epididimite: a inflamação dos epidídimos, ductos em que os espermatozoides ficam armazenados após a produção para amadurecerem e ganharem motilidade, pode provocar a formação de aderências, que impedem a ou dificultam o transporte dos gametas para serem ejaculados, resultando, da mesma forma, em oligozoospermia ou azoospermia;
- Prostatite: a inflamação da próstata pode causar alterações na composição do líquido prostático, que forma o sêmen e ajuda a proteger e nutrir os espermatozoides, comprometendo, nesse caso, a qualidade dos gametas masculinos.
A ultrassonografia abdominal verifica ainda possíveis problemas nas vesículas seminais, responsável pela produção de 80% do líquido seminal que forma o sêmen, assim como, em alguns casos a avaliação da próstata pode ser feita como opção primária ou complementar pela ultrassonografia transretal.
De acordo com os resultados do ultrassom, outros exames de imagem podem ser ainda solicitados de forma complementar, como por exemplo, a ressonância magnética.
Indicações do ultrassom para pesquisa da infertilidade feminina
Quando há suspeita de infertilidade feminina, o ultrassom poder ser realizado ainda durante a primeira consulta. Duas modalidades são as mais indicadas, a ultrassonografia transvaginal ou endovaginal, em que o transdutor, com formato adaptado é inserido pela vagina, ou a ultrassonografia abdominal.
Muitas vezes, as duas são utilizadas em associação para analisar os órgãos reprodutores femininos e indicadas para pesquisar as seguintes condições:
- Nos ovários: síndrome dos ovários policísticos (SOP): distúrbio endócrino, que causa um desequilíbrio hormonal e a formação de múltiplos cistos nos ovários em alguns casos, cuja principal consequência é anovulação crônica, ou ausência de ovulação, e, endometriomas, um tipo de cisto característico da endometriose, doença em que ocorre o crescimento de um tecido semelhante ao endométrio em locais ectópicos, que tendem a causar danos nos folículos ao redor e, assim, a redução da reserva ovariana, assim como distúrbios na ovulação;
- Nas tubas uterinas: dilatações tubárias, conhecidas como hidrossalpinges, que podem ser consequência da salpingite, inflamação das tubas, ou da endometriose;
- No útero: miomas uterinos, tumores benignos que podem crescer próximo ao endométrio, camada interna na qual o embrião se implanta para dar início à gestação, levando a falhas de implantação e abortamento; endometrite, inflamação do endométrio e pólipos endometriais, que também pode resultar em falhas e abortamento; malformações uterinas congênitas, adenomiose, sinequias uterinas, que podem causar distorções na anatomia dificultando ou impedindo o desenvolvimento da gravidez.
Outros exames de imagem podem ser ainda solicitados de forma complementar, como a histerossalpingografia e a ressonância magnética.
Os resultados proporcionados pelo ultrassom e exames complementares, orientam o tratamento mais adequado em cada caso, sempre individualizado. Entre as opções estão as técnicas de reprodução assistida, consideradas o tratamento padrão para infertilidade feminina e masculina. O ultrassom, é igualmente importante para orientar diferentes procedimentos realizados durante o tratamento.
Ultrassom na reprodução assistida
Em todas as técnicas de reprodução assistida a primeira etapa é a estimulação ovariana, procedimento que utiliza medicamentos hormonais para induzir o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos. O desenvolvimento folicular é acompanhado pela ultrassonografia transvaginal, realizada periodicamente.
Na fertilização in vitro (FIV), técnica em que a fecundação acontece em laboratório e os embriões são transferidos ao útero após alguns dias de desenvolvimento, os folículos maduros, que contêm o óvulo, são coletados por aspiração folicular, procedimento guiado pela ultrassonografia transvaginal.
A transferência dos embriões ao útero também é feita com auxílio do ultrassom, nesse caso, da ultrassonografia abdominal.
Além de investigar a infertilidade feminina e masculina, portanto, o ultrassom também é fundamental para garantir o sucesso dos tratamentos de reprodução assistida e, assim, da gravidez. Da mesma forma que é o exame indicado para acompanhar o desenvolvimento fetal durante o período gestacional. Compartilhe esse texto nas redes sociais e informe aos seus amigos!
O que é FIV? Quais são as etapas?
Por Prof. Dr. Gustavo André
A reprodução assistida é uma área da medicina reprodutiva que contempla o uso de diferentes técnicas e procedimentos para possibilitar a gravidez de pessoas diagnosticadas com infertilidade.
As três principais, classificadas de acordo com a complexidade dos tratamentos, são a relação sexual programada (RSP), a inseminação artificial (IA) e a fertilização in vitro (FIV). As duas primeiras são consideradas de baixa complexidade, pois preveem a fecundação de forma natural, nas tubas uterinas, enquanto na FIV, de alta complexidade, é realizada em laboratório.
Após a fecundação, os embriões se desenvolvem por alguns dias, também em laboratório, e são transferidos ao útero materno.
Continue a leitura deste texto até o final para saber melhor o que é FIV e entender como é realizado o tratamento com a utilização da técnica. Nele, detalhamos as principais etapas. Confira!
O que é FIV?
A FIV é considerada atualmente a principal técnica de reprodução assistida, porém os estudos para gerar uma vida em laboratório iniciaram ainda no final dos anos 1800, quando um professor da universidade de Cambridge, na Inglaterra, registrou o primeiro caso em coelhos.
A possibilidade de reproduzir o processo em humanos, entretanto, parecia ser apenas roteiro de ficção científica. Em 1932, por exemplo, o escritor inglês Aldous Huxley descreveu a técnica em seu romance ‘Admirável mundo novo’.
No entanto, na década de 1970 se tornou realidade com o nascimento do primeiro bebê, Louise Brown, após seus pais não conseguirem conceber naturalmente por um período de 9 anos devido a bloqueios tubários. Surgia como solução para um dos problemas mais comuns de infertilidade feminina.
Com o desenvolvimento tecnológico, a FIV também evoluiu. Os avanços foram tão significativos que atualmente permite o tratamento de praticamente todas as causas de infertilidade, feminina e masculina, ao mesmo tempo que atende a outras demandas reprodutivas.
Agora que você já sabe o que é FIV, conheça as principais etapas do tratamento.
Quais são as etapas da FIV?
Quando o casal enfrenta dificuldades para engravidar, na primeira consulta com o especialista em reprodução humana são analisados critérios como a idade, tempo de tentativa, histórico clínico pessoal e familiar e possíveis sintomas associados ao problema.
Posteriormente, a saúde reprodutiva de ambos é investigada por diferentes exames laboratoriais e de imagem para identificar e causa e determinar o plano terapêutico mais adequado em cada caso. Na FIV, além das etapas principais pode ser necessária a aplicação de técnicas complementares para solucionar diferentes problemas que interferem nas taxas de sucesso.
O tratamento é realizado em cinco etapas principais: estimulação ovariana e indução da ovulação, aspiração folicular e preparo seminal, fecundação, cultivo embrionário e transferência dos embriões. Veja abaixo como cada uma delas funciona:
Estimulação ovariana e indução da ovulação
Na primeira etapa da FIV a mulher recebe medicamentos hormonais para estimular o desenvolvimento e amadurecimento de uma quantidade maior de folículos ovarianos, estruturas que armazenam o óvulos primários, uma vez que no ciclo natural apenas um deles, entre os vários recrutados, conclui esse processo: desenvolve, amadurece e se rompe liberando o óvulo na ovulação.
Os medicamentos são administrados desde o início do ciclo menstrual, nos primeiros dias da menstruação. Para acompanhar o desenvolvimento dos folículos são realizados periodicamente exames de ultrassonografia transvaginal. Quando eles atingem o tamanho ideal, novos medicamentos são administrados para induzi-los ao amadurecimento final e rompimento.
Punção folicular e preparo seminal
Após a administração dos medicamentos indutores, os folículos são individualmente coletados por um procedimento chamado de punção folicular, que utiliza uma fina agulha acoplada a uma seringa. Guiado por ultrassom, proporciona a coleta de cada folículo maduro para que os óvulos sejam posteriormente extraídos e selecionados em laboratório.
Simultaneamente à punção folicular são coletadas amostras de sêmen do parceiro (em geral, por masturbação em sala de coleta apropriada), que são submetidas ao preparo seminal, técnica que capacita e seleciona os melhores espermatozoides por diferentes métodos.
Fecundação
A fecundação é realizada em laboratório com os melhores gametas selecionados. O principal método utilizado é a ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), em que cada um é injetado diretamente no óvulo com auxílio um micromanipulador de gametas, o que aumenta bastante as chances de sucesso, pois na fecundação natural o espermatozoide precisa romper diferentes barreiras para penetrar o óvulo.
Cultivo embrionário
Os embriões formados na fecundação são acomodados em incubadoras, com meios de cultura que simulam o ambiente uterino, e se desenvolvem por até 6 seis dias. O desenvolvimento embrionário é acompanhado diariamente por um embriologista, permitindo determinar os mais saudáveis, que vão ser transferidos ao útero, e a fase mais adequada, em cada caso, para que isso aconteça.
Transferência de embriões
Na última etapa da FIV os embriões são transferidos ao útero materno. A transferência pode ser feita em duas fases de desenvolvimento: D3 ou clivagem, entre o segundo e terceiro dia; ou estágio de blastocisto, entre o quinto e sexto dia.
A transferência em estágio de clivagem atualmente está reservada para os casos em que há poucos embriões em desenvolvimento ou quando eles parecem ser mais frágeis, podendo ser mais favorável o desenvolvimento no ambiente uterino do que no laboratório.
O avanço dos meios de cultura possibilitou o cultivo por mais tempo, até o estágio de blastocisto. Por isso, sempre que possível opta-se por transferir os embriões nessa fase por diferentes motivos:
- há maior sincronização fisiológica, pois é nesse estágio de desenvolvimento que ocorre a implantação na gestação natural;
- o blastocisto é mais resistente ao processo do congelamento, por isso é interessante, quando possível, aguardar este estágio. Congelar todos os embriões pode ser uma importante estratégia quando o endométrio não parece estar receptivo. Endométrio é o tecido de revestimento interno do útero no qual o embrião se implanta para dar início à gestação;
- na fase de blastocisto podem ser aplicadas técnicas complementares à FIV. Como o embrião já possui mais células, é possível analisá-las pelo PGT (teste genético pré-implantacional), que utiliza a tecnologia NGS, next generation sequencing ou sequenciamento de nova geração, para identificar distúrbios genéticos;
- a fase de blastocisto também possibilita o hatching assistido, técnica que prevê a criação de aberturas artificiais para facilitar a eclosão do embrião, processo em que ele rompe a zona pelúcida para se implantar, camada que o protege nos primeiros dias.
Além dessas, outras complementares ao tratamento podem ser utilizadas. Exemplos incluem o teste ERA, que analisa os genes envolvidos no ciclo endometrial por NGS, indicando o período mais receptivo para a transferência dos embriões.
Quando a FIV é indicada?
Atualmente, a FIV proporciona a solução da maioria das demandas reprodutivas, não apenas aquelas consequentes de fatores de infertilidade, mas também permite que casais homoafetivos e pessoas solteiras tenham filhos biológicos, assim como evita a transmissão de doenças genéticas para as futuras gerações pelo PGT, que pode ser feito apenas no tratamento com a técnica.
Os percentuais de sucesso gestacional são os mais altos da reprodução assistida. Desde o nascimento de Louise Brown na década de 1970, época em que se tornou popularmente conhecida, é responsável pelo nascimento de milhares de crianças no mundo todo.
Porém, os percentuais variam de acordo com critérios como idade e qualidade dos gametas. Ou seja, podem ser ainda mais altos se o tratamento for realizado por casais mais jovens com óvulos e espermatozoides saudáveis.
Saber o que é FIV é fundamental para os casais em tentativa de engravidar. Compartilhe esse texto nas redes sociais e divulgue a informação para todos os seus amigos!
Endometriose: sintomas
Por Prof. Dr. Gustavo André
Durante a fase fértil feminina, diferentes doenças podem comprometer a função dos órgãos reprodutores e resultar em infertilidade. A endometriose está entre elas e, atualmente, é considerada a principal causa das dificuldades reprodutivas de mulheres no mundo todo.
Embora tenha sido descrita pela primeira vez no final do século XIX, ficou mais conhecida no mundo contemporâneo, quando passou a ser frequentemente registrada. Hoje, com números em curva ascendente, é apontada como a doença da mulher moderna, o que é justificado principalmente pela tendência de adiar a maternidade.
Para orientar as mulheres portadoras, foram, inclusive, criadas associações especialmente voltadas a discussões sobre a doença e o mês de março foi instituído mundialmente como o de conscientização da endometriose com a campanha Março Amarelo.
Entre os aspectos que contribuem para os efeitos provocados pela endometriose está a demora em realizar o diagnóstico. Por isso, é fundamental a atenção aos possíveis sintomas; eles funcionam como um alerta, indicando a necessidade de procurar um especialista.
Para conhecê-los, continue a leitura deste texto até o final, que destaca, ainda, a importância do diagnóstico precoce e as principais formas de tratamento se houver, ou não, o desejo de engravidar. Confira!
Entenda melhor a endometriose
A endometriose é uma doença crônica e inflamatória complexa, que pode causar diferentes complicações. Por se desenvolver lentamente, geralmente demora a ser diagnosticada, evoluindo para estágios mais graves.
A principal característica da doença é a presença de um tecido semelhante ao endométrio, que reveste internamente o útero, normalmente em locais próximos, como o peritônio, membrana serosa que recobre a cavidade abdominal e os órgão nela abrigados, os ovários, as tubas uterinas, a bexiga e o intestino.
Embora as causas exatas da endometriose ainda permaneçam desconhecidas, desde sua descoberta surgiram várias teorias para explicar o desenvolvimento. A mais aceita é a da menstruação retrógada, condição em que o sangue menstrual retorna pelas tubas uterinas carregando fragmentos do endométrio que se implantam em outras regiões.
Em todos os ciclos menstruais o endométrio é preparado para receber um possível embrião, processo chamado nidação ou implantação embrionária, quando ele se fixa nesse tecido para dar início à gestação. Por outro lado, se a fecundação não acontecer descama originando a menstruação e, junto com o sangue, seus fragmentos são expelidos do corpo pelo canal vaginal.
O estrogênio é o hormônio responsável pelo preparo, assim, sabe-se hoje que o tecido ectópico também reage à sua ação estimulando o desenvolvimento da doença, da mesma forma que ela tende a retroceder na menopausa, quando os níveis hormonais são mais baixos.
Entre os fatores de risco estão, ainda, a nuliparidade, ou seja, nunca ter tido filhos, e a maternidade tardia, o que deixa as mulheres expostas por mais tempo ao hormônio e explica os percentuais elevados da doença.
Diferentes estudos também associam a influência da genética à ocorrência da endometriose, uma vez que é alta a incidência em parentes de primeiro grau das portadoras.
No início, a endometriose afeta apenas o peritônio na maioria dos casos, as lesões são poucas e superficiais. Porém, com o desenvolvimento tende a se infiltrar e aderir aos órgãos, tornando-se mais grave e causando a manifestação de sintomas que podem comprometer a qualidade de vida.
Conheça os principais sintomas da endometriose
Embora seja geralmente assintomática em estágios iniciais, à medida que a endometriose se desenvolve a presença do tecido ectópico causa um processo inflamatório e diferentes sintomas, que podem ser mais severos de acordo com o local e profundidade. A intensidade em mulheres com o mesmo grau da doença, entretanto, varia bastante.
O principal é a dor pélvica durante a menstruação. Consequência da dismenorreia secundária, cólicas decorrentes das lesões que aumentam a severidade das provocadas pela expulsão do sangue. A dor pode tornar-se crônica em estágios mais avançados e manifestar fora do período menstrual, sendo muitas vezes incapacitante, interferindo na realização de atividades diárias.
Algumas mulheres relatam ainda dor durante as relações sexuais, o que é chamado de dispareunia de profundidade.
Nos casos em que os implantes estão localizados na bexiga e intestinos, alterações nos hábitos urinários e intestinais são os sintomas mais comuns, como vontade frequente e urgente de urinar ou dificuldade acompanhada de dor, presença de sangue na urina, constipação, sangramento nas fezes, dor e dificuldade em evacuar.
A infertilidade também é um dos sintomas da endometriose. As alterações acontecem desde os estágios iniciais: o processo inflamatório pode interferir na receptividade do endométrio, período mais propício para o embrião se implantar, resultando em falhas e abortamento, ou no desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos, impedindo a ovulação.
Contudo, o problema é principalmente associado à presença de endometriomas, um tipo de cisto ovariano característico da doença que se forma em estágios moderados ou mais avançados e, em tamanho ou quantidade maiores pode causar danos aos folículos localizados ao redor, levando a perdas e diminuição da reserva ovariana, cujo resultado pode ser a infertilidade permanente.
Em estágios mais avançados, quando os implantes estão localizados nas tubas uterinas, o processo inflamatório pode provocar a formação de aderências que as obstruem, impedindo a captação do óvulo, além do transporte dos espermatozoides e do embrião ao útero para se implantar.
Mesmo que exista a tendência de os sintomas comprometerem as relações pessoais ou profissionais, levando muitas vezes ao afastamento social e desenvolvimento de transtornos emocionais, incluindo a depressão, podem ser controlados e a gravidez obtida por técnicas de reprodução assistida.
Por isso, ter atenção a eles é fundamental para o diagnóstico precoce, o que aumenta bastante as chances de sucesso do tratamento.
Tratamento da endometriose para as mulheres que não desejam engravidar
Quando os sintomas são mais leves ou moderados e a mulher não tem o desejo de engravidar no momento, geralmente são prescritos medicamentos hormonais para suspender a menstruação e, assim, minimizar a exposição ao estrogênio interrompendo o desenvolvimento da doença, anti-inflamatórios não esteroides (AINES) e analgésicos para aliviar dor e inflamação.
Se forem mais graves, por outro lado, é indicada a remoção cirúrgica das aderências ou endometriomas, feita normalmente por videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva.
Tratamento da endometriose para as mulheres que desejam engravidar
Se a mulher desejar engravidar, a cirurgia pode ser igualmente uma opção. Porém, a remoção dos endometriomas também pode comprometer a reserva ovariana, ainda que seja feita por profissionais experientes.
Para evitar o problema, é sugerida normalmente a preservação da fertilidade, procedimento em que os óvulos são congelados previamente ao ato cirúrgico, para que no futuro possam ser utilizados em um tratamento de fertilização in vitro (FIV).
A videolaparoscopia é indicada para os casos em que a mulher tenha boa reserva ovariana e que não existam outros fatores associados que já indiquem FIV.
Optar diretamente pela fertilização in vitro, principalmente quando os endometriomas não existirem ou forem pequenos, é o mais indicado. Além disso, quando a idade da mulher for avançada (maior que 35 anos), quando houver marcadores de reserva ovariana diminuídos, quando as tubas estiverem obstruídas de forma marcante ou se houver alterações dos espermatozoides do parceiro, não existe indicação de cirurgia.
Na FIV, técnica de reprodução assistida mais complexa, a fecundação é realizada em laboratório e os embriões são transferidos diretamente ao útero materno. É possível a utilização de protocolos de medicamentos que diminuam o efeito inflamatório que a doença provoca. Por isso, a técnica proporciona ótimas chances de gravidez, já que interfere em todos os possíveis mecanismos nos quais a endometriose diminui a fertilidade.
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