A endometriose é a doença de maior incidência entre as mulheres contemporâneas. Tem como característica o crescimento de um tecido semelhante ao endométrio, que reveste a camada interna uterina, fora do útero em locais próximos.
O endométrio é composto por tecido epitelial, glândulas, estromas e vasos sanguíneos, que durante os ciclos menstruais, estimulado pelos níveis de estrogênio torna-se mais espesso e vascularizado, criando as condições adequadas para receber um possível embrião formado na fecundação, que se fixa nessa camada para dar início à gestação, processo conhecido como implantação ou nidação.
Se não houver fecundação, descama originando a menstruação, em que são eliminados os fragmentos endometriais, e um novo ciclo menstrual.
O fenômeno conhecido como menstruação retrógada, quando parte do sangue retorna pelas tubas uterinas em vez de sair pelo útero, é sugerido com a causa mais provável da endometriose. A teoria, proposta pelo ginecologista norte americano Albert Sampson nas primeiras décadas do século XX ainda é a mais aceita.
Segundo ele, os fragmentos do endométrio que deveriam ser eliminados junto com o sangue, também retornam pelas tubas uterinas e se implantam em outros locais.
Inicialmente, afeta o peritônio, membrana que reveste a cavidade pélvica e os órgãos nela abrigados, com lesões que ainda são planas e rasas. À medida que se desenvolve, o tecido ectópico invade os órgãos até se infiltrar profundamente.
Esses são critérios utilizados para determinar os diferentes tipos de endometriose, que podem impactar a saúde feminina de diferentes formas, incluindo a capacidade reprodutiva, resultando muitas vezes em fertilidade.
Apesar de nem todas as mulheres com a doença se tornarem inférteis, a opção deve ser considerada quando se recebe o diagnóstico, ainda que as técnicas de reprodução assistida possam auxiliar a gravidez na maioria dos casos.
Continue a leitura até o final para entender melhor como os diferentes tipos de endometriose podem comprometer a fertilidade e a possibilidade de engravidar pela reprodução assistida. Confira!
Uma das características da endometriose é ser geralmente de crescimento lento, assim, pode demorar muitos anos para ser diagnosticada. Além disso, mesmo que desde o início a presença do tecido ectópico provoque um processo inflamatório no local, responsável pelos diferentes sintomas que podem se apresentar, incluindo a infertilidade, ela tende a ser silenciosa nesses estágios, o que contribui para o diagnóstico tardio.
Contudo, esse tipo de endometriose, denominado peritoneal superficial, também pode afetar a fertilidade. O processo inflamatório, pode interferir no desenvolvimento, amadurecimento e rompimento dos folículos ovarianos, resultando em distúrbios de ovulação, quando o óvulo é liberado pelos ovários apenas em alguns ciclos anuais, oligovulação, ou a ovulação não acontece em nenhum ciclo, anovulação.
Pode, ainda, interferir no preparo adequado do endométrio, resultando em falhas na implantação do embrião e abortamento.
Com o desenvolvimento da doença, o tecido ectópico invade os órgãos. Nas tubas uterinas, órgãos conectados ao útero que o ligam aos ovários e abrigam a fecundação, o processo inflamatório pode levar ao acúmulo de líquidos em seu interior, bem como provocar a formação de aderências, situações que resultam em bloqueios e impedem a fecundação.
Ao se infiltrar nos ovários, forma endometriomas, um tipo de cisto ovariano composto por tecido ectópico e sangue envelhecido, localizados no córtex ovariano, região em que os folículos ficam abrigados.
Assim, além de interferirem no processo de desenvolvimento e amadurecimento folicular, os endometriomas tendem a causar danos nos folículos ao redor e, em tamanhos ou quantidades maiores, podem comprometer a reserva ovariana, resultando muitas vezes em infertilidade permanente.
Por esse motivo a endometriose ovariana ou endometrioma, como é conhecido esse tipo, é a mais associada à infertilidade feminina, considerada, inclusive, a principal causa de infertilidade feminina atualmente.
Nos estágios mais avançados, o tecido ectópico já invadiu e se infiltrou profundamente em vários órgãos, além de reunir todas as características dos outros tipos, como as lesões peritoneais e os endometriomas, interferindo, assim, de diferentes formas na fertilidade das mulheres.
Além da infertilidade, nesse tipo, endometriose infiltrativa profunda, outros sintomas podem surgir. O mais marcante é a dor pélvica, inicialmente percebida pelo aumento da severidade das cólicas menstruais, o que pode ocorrer à medida que a doença se desenvolve. Porém, na endometriose profunda a dor tende se tornar crônica.
Dor durante as relações sexuais (dispareunia), bem como alterações nos hábitos urinários e intestinais, principalmente no período menstrual, podem ainda surgir quando o tecido ectópico invade os ligamentos uterossacros, a vagina, a bexiga e o intestino.
Duas técnicas de reprodução assistida podem auxiliar a gravidez de mulheres com endometriose, a relação sexual programada (RSP), de menor complexidade, e a fertilização in vitro (FIV), de maior complexidade.
A RSP geralmente é indicada como primeira opção de tratamento para mulheres com endometriose em estágios iniciais, que apresentam apenas problemas como distúrbios ovulatórios mais leves.
Essa técnica, prevê a estimulação ovariana, procedimentos em que medicamentos hormonais para estimular a função ovariana e obter até 3 óvulos disponíveis para a fecundação. Exames de ultrassonografia transvaginal acompanham o desenvolvimento dos folículos indicando o momento ideal para intensificar a relação sexual, quando eles atingem o auge e novos os medicamentos os induzem ao amadurecimento final e ovulação.
A fecundação acontece naturalmente, nas tubas uterinas, por isso elas devem estar permeáveis, sem nenhuma obstrução, bem como os níveis da reserva ovariana ainda devem estar altos e os espermatozoides do parceiro dentro dos padrões de normalidade.
A FIV, por outro lado, é a técnica de reprodução assistida indicada para os casos mais graves de endometriose, quando os tratamentos primários clássicos não forem bem-sucedidos, ou quando for indicada a remoção de endometriomas maiores, o que sugere a necessidade de congelamento dos óvulos para preservação da fertilidade antes de o procedimento ser realizado, posteriormente utilizados no tratamento com a técnica.
Na FIV a fecundação acontece em laboratório, precedida da coleta e seleção dos melhores óvulos, obtidos com a estimulação ovariana e espermatozoides. Os gametas masculinos são injetados diretamente nos femininos com auxílio de um micromanipulador de gametas, procedimento denominado ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide).
Os embriões formados, são então transferidos ao útero materno após alguns dias de desenvolvimento.
Mulheres com infertilidade por endometriose, portanto, podem contar com a reprodução assistida para obter a gravidez, com percentuais de sucesso bastante expressivos.
Aproveite para compartilhar o texto nas redes sociais e divulgar essa informação para seus amigos! Hoje, a infertilidade é considerada questão de saúde pública mundial, e a endometriose está entre as doenças que mais contribuem para os altos percentuais registrados anualmente, inclusive no Brasil.