O corpo da mulher é preparado a cada ciclo menstrual para uma possível gravidez, um processo bastante complexo que depende do sucesso de diferentes etapas, entre elas a nidação.
Durante a fase reprodutiva, entretanto, período localizado entre a puberdade, quando ocorre a primeira menstruação, e a menopausa, quando se encerram os ciclos menstruais, diferentes doenças e condições podem causar alterações no funcionamento adequado dos órgãos reprodutores – ovários, tubas uterinas e útero – e interferir nesse processo, resultando em infertilidade.
O funcionamento inadequado de qualquer órgão reprodutor naturalmente provoca falhas em etapas que compõem o ciclo reprodutivo, dessa forma, não é possível engravidar, mesmo mantendo relações sexuais frequentes sem o uso de qualquer método contraceptivo.
Falhas na nidação consecutivas são, inclusive, determinantes para a infertilidade feminina. Continue a leitura até o final para saber o que é nidação e sua importância para a fertilidade das mulheres. Confira!
Os ciclos menstruais femininos têm início na puberdade, quando a mulher se torna apta a engravidar.
As mulheres já nascem como um estoque de óvulos, as células sexuais femininas utilizadas durante a fase fértil, o que é chamado de reserva ovariana. A partir da puberdade, a cada ciclo menstrual vários folículos são recrutados, bolsas que armazenam os óvulos imaturos, estimulados pela ação do hormônio folículo-estimulante (FSH).
Um desses folículos se destaca entre os demais, concluindo seu desenvolvimento e amadurecendo com auxílio do LH (hormônio luteinizante). Enquanto crescem, os folículos recrutados passam a secretar estrogênio, hormônio responsável pelo espessamento do endométrio, tecido de revestimento interno do útero, preparando-o para receber um possível embrião.
Aproximadamente na metade do ciclo menstrual ocorre um pico desses hormônios induzindo o folículo dominante ao rompimento para a liberação do óvulo. O óvulo liberado é captado pelas tubas uterinas na extremidade conectada aos ovários e aguarda por 24h o encontro o espermatozoide.
Quando ocorre a relação sexual e o homem ejacula, os milhares de espermatozoides liberados viajam pela extremidade uterina das tubas, porém apenas um deles alcança o óvulo. A fusão ente o óvulo e o espermatozoide é chamada de fecundação, processo em que é formado o zigoto, célula primordial do embrião que sofre sucessivas divisões celulares ainda nas tubas uterinas enquanto é transportado ao útero.
O embrião chega ao útero no quinto dia de desenvolvimento para realizar a nidação, fase conhecida como blastocisto, em que já possui as células definidas e diferenciadas por função.
Nidação é a etapa em que o embrião se implanta no endométrio para dar início à gestação. Para ser bem-sucedida, entretanto, o endométrio precisa estar receptivo, o que significa que deve ser adequadamente preparado durante os ciclos menstruais.
O preparo inicia na primeira fase do ciclo menstrual com a secreção de estrogênio pelos folículos em crescimento, tornando o endométrio mais espesso e vascularizado. Na última fase, o folículo rompido se transforma em corpo lúteo, uma glândula endócrina temporária cuja função é secretar progesterona, hormônio que vai garantir o preparo final do endométrio, estratificando esse processo, o que é chamado de receptividade endometrial.
O período mais receptivo é conhecido como janela de implantação e dura por aproximadamente 4 dias. Para se implantar, o embrião deve romper a zona pelúcida, camada de glicoproteínas herdada do óvulo que o protege nos primeiros dias de vida. Esse processo é conhecido como eclosão ou hatching.
Após eclodir, o embrião estabelece um contato com o endométrio iniciando a nidação. Na fase de blastocisto possui dois grupos celulares: o interno, chamado de embrioblasto, que vai originar o embrião propriamente dito, e o externo, trofoblasto, responsável por formar a placenta e outros anexos embrionários.
Se ocorrerem falhas na nidação, não ocorrerá a gestação ou um pouco após uma nidação inadequada poderá determinar a interrupção da gestação, processo denominado abortamento. Isso ocorrendo por duas ou mais vezes caracterizará uma condição denominada abortamento de repetição, um dos critérios que determina a infertilidade feminina além de tentativas malsucedidas em engravidar após um ano de relações sexuais desprotegidas. A nidação, portanto, está fortemente associada à capacidade reprodutiva das mulheres.
Entre as doenças que podem provocar alterações nessa etapa está a endometrite, inflamação do endométrio, uma das consequência da DIP (doença inflamatória pélvica) caracterizada pela inflamação dos órgãos reprodutores. A DIP, por sua vez, geralmente é provocada por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a clamídia e a gonorreia.
Outra doença feminina, a endometriose, pode igualmente interferir na receptividade do endométrio, desde os estágios iniciais, o que é motivado pelo processo inflamatório característico da doença. Miomas submucoso e pólipos endometriais também poderão inflamar, alterar a anatomia e deturpar a vascularização do endométrio, causando riscos para uma pior implantação do embrião.
Inflamações em outros órgãos reprodutores ou mesmo as provocadas por intervenções cirúrgicas na região pélvica, estão ainda entre os fatores de risco. Além disso, embriões de má qualidade, formados por gametas de pais mais velhos ou como resultado de erros durante o processo de divisão celular, e falhas na eclosão também impedem a nidação resultando em abortamento.
Porém, apesar de a nidação ser fundamental para a fertilidade feminina é possível engravidar com auxílio da reprodução assistida.
Quando a infertilidade é consequência de falhas na nidação o tratamento é realizado por fertilização in vitro (FIV), principal técnica de reprodução assistida que reproduz etapas importantes em laboratório, como a fecundação e o desenvolvimento inicial dos embriões até a fase de blastocisto.
Posteriormente, os embriões formados são transferidos diretamente ao útero materno para que a nidação aconteça naturalmente.
Entre as soluções proporcionadas pela técnica está o preparo do endométrio com medicamentos hormonais sintéticos semelhantes aos naturais. Nesse caso, todos os embriões são congelados e a transferência é feita apenas no ciclo seguinte.
O congelamento de todos os embriões permite ainda a aplicação de duas técnicas complementares à FIV, minimizando ainda mais possíveis falhas, o teste ERA e o PGT (teste genético pré-implantacional).
Ambos utilizam a tecnologia de sequenciamento genético, NGS, do inglês next generation sequencing. No ERA, são analisados os genes envolvidos no ciclo endometrial, permitindo determinar com precisão o período mais receptivo para transferir os embriões no próximo ciclo.
Já o PGT analisa as células dos embriões na fase de blastocisto, indicando distúrbios genéticos. Após a biópsia para análise os embriões são congelados até a obtenção do resultado. Dessa forma, apenas os mais saudáveis são transferidos.
Outra técnica complementar à FIV, o hatching assistido, ajuda ainda a solucionar dificuldades de eclosão, auxiliando o processo a partir da criação de aberturas artificiais na zona pelúcida. É particularmente importante quando os embriões são formados por óvulos de mulheres mais velhas, em que geralmente essa camada é mais densa, difícil de romper.
No entanto, apesar de a FIV proporcionar a solução de praticamente todos os problemas que resultam em falhas de nidação, os processos inflamatórios podem causar interferências mesmo no tratamento com a técnica, como a endometrite e os provocados por outras condições, por isso devem ser anteriormente tratados.
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