Hoje, milhares de pessoas no mundo todo sofrem com infertilidade, ou seja, não conseguem engravidar naturalmente por relação sexual, como consequência de diversas condições, incluindo, por exemplo, doenças e hábitos de vida. Os percentuais são tão elevados que a organização mundial da saúde (OMS) passou a considerar o problema questão de saúde pública mundial.
No entanto, apesar dos altos números registrados anualmente, com o tratamento adequado é possível engravidar na maioria dos casos. A reprodução assistida é considerada o tratamento padrão para os fatores de infertilidade femininos e masculinos, além de possibilitar a gravidez em outras situações, como casais homoafetivos ou pessoas solteiras que desejam ser pais independentes.
Essa área da medicina reúne técnicas e procedimentos que auxiliam no processo reprodutivo, as principais são a fertilização in vitro (FIV), a inseminação artificial (IA) e a relação sexual programada (RSP). A definição da mais adequada em cada caso é feita após a realização de exames, laboratoriais e de imagem, para identificar a causa da dificuldade de engravidar.
Este texto aborda detalhadamente o funcionamento e indicação de cada uma delas. Continue a leitura até o final e confira!
Algumas mulheres podem demorar um pouco mais do que outras para engravidar, isso depende de cada organismo e é considerado normal. Para o diagnóstico de infertilidade é necessário haver pelo menos um ano de tentativas com relações sexuais desprotegidas, sem o uso de nenhum método contraceptivo.
A infertilidade feminina geralmente é consequência de distúrbios de ovulação, obstruções tubárias ou anormalidades uterinas, enquanto a masculina pode resultar de interferências na espermatogênese, processo de produção dos espermatozoide, ou de obstruções que impedem o transporte para fecundar o óvulo.
Entre as doenças femininas mais comuns durante a idade fértil, que podem provocar esses problemas, estão as estrogênio-dependentes – endometriose, miomas uterinos ou pólipos endometriais – e a síndrome dos ovários policísticos (SOP).
Já entre as masculinas a varicocele e os processos inflamatórios dos órgãos reprodutores, epididimite, dos epidídimos, orquite, dos testículos e prostatite, da próstata, se destacam por serem causas prováveis de azoospermia, ausência de espermatozoides no sêmen, bem como podem interferir na qualidade dos gametas.
Após identificada a causa da infertilidade, o tratamento pode ser realizado pelas técnicas de baixa complexidade, RSP e IA, em que a fecundação acontece naturalmente, nas tubas uterinas, ou pela FIV, mais complexa, em que o processo é realizado em ambiente laboratorial. Veja abaixo o funcionamento e indicação de cada uma:
A RSP é a técnica de reprodução assistida mais simples. Como o nome sugere, o objetivo do tratamento é programar a relação sexual para o período do ciclo menstrual feminino em que há mais chances de engravidar. Para isso, a mulher é submetida à estimulação ovariana, procedimento que utiliza medicamentos hormonais para estimular os ovários e obter mais óvulos maduros.
No ciclo menstrual normal vários folículos são recrutados, estruturas que contém o óvulo imaturo. Porém, apenas um deles se destaca, desenvolve, amadurece e rompe liberando o óvulo na ovulação.
Os medicamentos administrados estimulam o desenvolvimento de mais folículos. Na RSP são utilizadas baixas doses, uma vez que a fecundação acontece naturalmente, para obter entre 1 e 3 óvulos.
O desenvolvimento dos folículos é acompanhado por exames de ultrassonografia transvaginal periódicos, que indicam quando eles atingem o tamanho ideal para que novos medicamentos os induzam ao amadurecimento e ovulação, que ocorre em aproximadamente 36 horas. Permitem, dessa forma, programar a relação sexual para o período em que há mais chances de engravidar.
O período de maior fertilidade das mulheres é marcado pela ovulação e considera o tempo de sobrevida do óvulo, 24h, e dos espermatozoides, aproximadamente 72h.
A RSP apresenta percentuais de sucesso semelhantes aos da gestação espontânea: cerca de 20% a cada ciclo de tratamento. É indicada nas seguintes situações:
Assim como a RSP, a IA inicia com a estimulação ovariana; as doses dos medicamentos são igualmente mais baixas. No entanto, essa técnica permite o tratamento quando há pequenas alterações na morfologia (forma) ou motilidade (movimento) dos espermatozoides.
Simultaneamente à estimulação ovariana, as amostras de sêmen do parceiro são coletadas e submetidas ao preparo seminal, técnica que utiliza diferentes métodos para capacitar os gametas masculinos e selecionar os com maior capacidade de penetrar o óvulo para fecundá-lo.
Os espermatozoides selecionados são, então, inseridos em um cateter e depositados diretamente no útero, encurtando o caminho até as tubas uterinas, durante o período fértil apontado pelos exames ultrassonográficos.
Os percentuais de sucesso da IA também são semelhantes aos da gestação espontânea, cerca de 20% por ciclo. É indicada nas seguintes situações:
A FIV é a técnica mais complexa e é considerada a principal por atender a praticamente todas as demandas reprodutivas.
Possibilita desde o tratamento de fatores de infertilidade, mais ou menos graves, à gravidez de casais homoafetivos masculinos, que contam com a doação de óvulos, o processo compartilhado no caso dos femininos, além de ser a única técnica que permite evitar a transmissão de distúrbios genéticos para os filhos.
O tratamento com a FIV é realizado em cinco etapas, estimulação ovariana, preparo seminal, fecundação e cultivo embrionário.
A estimulação ovariana, entretanto, se difere das outras técnicas em alguns pontos. Além da dosagem hormonal ser mais alta, pois o objetivo é obter de 5 a 15 óvulos maduros e garantir que mais embriões sejam formados, após a administração dos medicamentos indutores os folículos maduros são coletados por punção folicular, os óvulos extraídos e selecionados em laboratório.
O preparo seminal também permite a seleção dos espermatozoides mais saudáveis. Na FIV em homens com azoospermia (ausência de espermatozoides no ejaculado) eles podem em boa parte dos casos ser coletados dos epidídimos ou testículos por diferentes métodos.
Apenas os melhores óvulos e espermatozoides são utilizados na fecundação, geralmente realizada por ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), em que cada espermatozoide é diretamente injetado no óvulo.
Os embriões formados são acomodados em incubadoras e se desenvolvem por até seis dias. Podem ser transferidos ao útero em duas fases de desenvolvimento, D3 ou clivagem, entre o segundo e terceiro dia, ou no blastocisto, entre o quinto e o sexto.
Além de o tratamento principal contornar diferentes problemas que podem dificultar a gravidez, a FIV conta com um conjunto de técnicas complementares, que oferecem ainda outras soluções. Entre elas está o PGT (teste genético pré-implantacional), que analisa as células do embrião indicando possíveis distúrbios genéticos. Dessa forma, apenas os mais saudáveis são transferidos.
Os percentuais de sucesso proporcionados pela FIV são os mais altos da reprodução assistida, embora todas proporcionem a gravidez quando são bem indicadas.
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