Embora muitas pessoas desconheçam, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) podem causar diversas complicações para a saúde em geral, especialmente a reprodutiva, e fazem parte da história da humanidade desde a Idade Média.
A nomenclatura IST é recente. Até bem pouco tempo eram conhecidas como DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), no entanto já receberam diferentes denominações desde que foram identificadas pela primeira vez.
A substituição do I pelo D foi proposta pela falta de sintomas comum à maioria, uma vez que doenças geralmente apresentam sintomas, enquanto as infecções podem permanecer assintomáticas por determinado período ou por mais tempo.
Como ocorreu em outras épocas, as ISTs, atualmente, voltaram a se tornar um problema de saúde pública no mundo todo. A disseminação é justificada pelos hábitos atuais das sociedades contemporâneas, principalmente, nesse caso, o aumento da atividade sexual em idades mais jovens com múltiplos parceiros. Entre elas, a clamídia se destaca como a mais prevalente.
Continue a leitura até o final para entender em detalhes os que é clamídia e suas consequências, possíveis sintomas que indicam a necessidade de procurar auxílio médico, diagnóstico e tratamentos. Confira!
As infecções sexualmente transmissíveis podem ser provocadas por bactérias, vírus ou outros agentes infecciosos. A clamídia é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis e pode afetar qualquer pessoa sexualmente ativa, independentemente da idade e opção sexual.
Porém, alguns grupos são apontados como de maior risco, entre eles jovens entre 15 e 25 anos, aqueles que têm mais de uma parceria sexual, novas parcerias e pessoas com histórico de outras ISTs.
A clamídia é transmitida pelo sexo desprotegido (vaginal, oral e anal) com pessoas infectadas, ou da mãe para o filho durante o parto, o que é chamado de transmissão vertical, mas também pode ocorrer apenas pelo contato com os genitais e secreções contaminados ou durante o compartilhamento de objetos sexuais.
Mesmo que o tratamento seja simples, a ausência de sintomas é uma característica presente em boa parte dos casos, o que dificulta o diagnóstico precoce. É exatamente a permanência da infecção que leva a complicações, incluindo infertilidade feminina e masculina.
Uma das formas de identificar a clamídia é observar possíveis sintomas que alertam para a necessidade de procurar um especialista. Eles se apresentam aproximadamente 15 dia após a contaminação e costumam ser mais intensos nas mulheres.
Micção urgente e frequente e dor ou queimação ao urinar são comuns a ambos os sexos, assim como secreções: corrimento amarelado com odor forte nas mulheres e secreção aquosa esbranquiçada nos homens.
As mulheres podem apresentar ainda sangramento entre os períodos menstruais, dor após as relações sexuais, inchaço na vagina e ao redor do ânus. Já os homens podem perceber alterações na região testicular como inchaço, sensibilidade e dor, em um ou nos dois testículos, além de irritação no ânus e sangramento retal.
Para prevenir a contaminação é fundamental o uso de preservativos de barreira em todas as relações sexuais, as camisinhas masculinas e femininas. Por outro lado, apesar de o tratamento ser simples e promover a cura, não repara os danos provocados pela infecção (sequelas).
A clamídia é uma das principais causas da doença inflamatória pélvica (DIP), que pode provocar inflamações nos órgãos reprodutores femininos e masculinos.
Nas mulheres, quando afeta os ovários (ooforite), pode causar distúrbios de ovulação por interferir no desenvolvimento dos folículos, que contêm os óvulos imaturos, na qualidade dos óvulos ou provocar aderências que impedem sua liberação durante o ciclo menstrual. Na tubas uterinas (salpingite), as aderências resultam em obstruções totais ou parciais, inibindo o transporte dos gametas e do embrião formado ao útero, dificultando a fecundação e aumentando o risco de gravidez ectópica (exemplo: gravidez tubária).
Se afetar o útero, pode resultar na inflamação do endométrio, tecido que reveste o órgão internamente em que o embrião se implanta para dar início à gestação. Chamada endometrite, tende a causar interferências na receptividade endometrial, critério fundamental para a implantação ser bem-sucedida, resultando em falhas na nidação e abortamento.
Nos homens, a DIP pode atingir os epidídimos (epididimite), ductos em que os espermatozoides são armazenados após serem produzidos. As aderências consequentes do processo inflamatório impedem o transporte para que eles sejam ejaculados, resultando em azoospermia obstrutiva, condição em que não estão presentes no sêmen apesar de a produção ser normal.
A azoospermia também pode ser consequência da inflamação dos testículos, orquite. Nesse caso, por interferir no processo de produção, espermatogênese, o que é chamado de azoospermia não obstrutiva. A qualidade dos gametas também é prejudicada.
O tratamento da clamídia é realizado por antibióticos, em ciclos curtos ou mais longos, e deve ser extensivo à parceria sexual. A abordagem cirúrgica pode ser indicada para a remoção de aderências.
Ainda que a clamídia possa impactar a fertilidade de homens e mulheres de diferentes formas, se o tratamento primário não promover a restauração da fertilidade ainda é possível engravidar com auxílio da reprodução assistida.
A técnica utilizada nos casos de infertilidade mais grave é a fertilização in vitro (FIV), que prevê a fecundação em laboratório, precedida da coleta e seleção dos melhores óvulos e espermatozoides, contornando, dessa forma, possíveis problemas de qualidade. Como as tubas uterinas não têm função nesse processo, obstruções não representam nenhum obstáculo.
Além disso, o endométrio pode ser preparado por medicamentos hormonais, minimizando possíveis falhas de implantação, assim como é possível definir o período mais receptivo para transferir os embriões com a aplicação do teste ERA, técnica complementar ao tratamento, que analisa a expressão os genes envolvidos na receptividade endometrial.
Na FIV, os embriões formados na fecundação se desenvolvem durante alguns dias e são transferidos diretamente ao útero materno. Outra técnica complementar, o PGT (teste genético pré-implantacional), permite a análise das células embrionárias, identificando possíveis distúrbios genéticos e proporcionando a seleção dos embriões mais saudáveis para serem transferidos.
Assim, mesmo que a clamídia provoque danos de maior gravidade, a FIV aumenta bastante as chances de engravidar, com percentuais bastante expressivos de sucesso, em média 50% a 60% a cada ciclo de tratamento.
Agora que você já sabe o que é clamídia e os impactos dessa IST na saúde reprodutiva, informe também aos seus amigos compartilhando esse post nas redes sociais. Essa é uma forma de ajudar a evitar a disseminação da infecção!