As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), podem ser causadas por vários agentes, como vírus, bactérias ou protozoários, e resultam em diferentes complicações para a saúde.
A clamídia, causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, é a mais prevalente, registrando altos índices de contaminação no mundo todo, principalmente nas populações mais jovens, entre 15 e 24 anos, independentemente da opção sexual, embora possa afetar qualquer pessoa sexualmente ativa.
Assim como os outros agentes infecciosos, a bactéria Chlamydia trachomatis é transmitida pelo sexo desprotegido com pessoas contaminadas, ou seja, sem o uso de preservativos de barreira, as camisinhas masculinas ou femininas.
No entanto, a transmissão pode ocorrer por qualquer tipo de contato com as secreções contaminadas, uma característica desse tipo de infecção, ainda que que não exista penetração, ou das mães aos seus filhos durante o parto e amamentação.
A disseminação da clamídia é fortemente associada à sua assintomatologia e, quando há presença de sintomas, alguns são inespecíficos, como a dor abdominal, e podem ser confundidos com outras condições, bem como se apresentam em intensidades diferentes em mulheres e homens, ou mesmo entre pessoas do mesmo sexo.
Assim, a clamídia tende ser descoberta quando a infecção já causou maiores danos, inclusive para a saúde reprodutiva, sendo apontada atualmente com um dos principais fatores de risco para infertilidade feminina e masculina.
O diagnóstico precoce é fundamental para a evitar as possíveis interferências na capacidade de engravidar, pois apesar de o tratamento ser bastante simples e proporcionar a cura, não repara os danos provocados pela infecção.
Acompanhe o texto até o final e veja como é feito o diagnóstico da clamídia, as interferências na saúde reprodutiva e as opções para engravidar quando resulta em infertilidade. Confira!
Quando as pessoas infectadas pela bactéria Chlamydia trachomatis apresentam sintomas, eles são um importante alerta e contribuem para diagnosticar precocemente essa IST. Geralmente, têm início cerca duas semanas após a contaminação e o mais frequente, nos dois sexos, é a vontade urgente de urinar, que acontece por mais vezes do que o habitual e pode ser acompanhada da sensação de queimação e dor.
As mulheres com clamídia podem apresentar ainda:
Nos homens, por outro lado, os testículos podem inchar, ficar doloridos e sensíveis, ao mesmo tempo que pode haver irritação no ânus e sangramento retal.
Além dos sintomas, cujo acolhimento é feito na consulta inicial, com a percepção de alguns durante o exame físico, o diagnóstico é estabelecido após a realização de exames laboratoriais, que confirmam a presença da bactéria Chlamydia trachomatis, como os de sangue ou urina e a análise das secreções.
A característica assintomática da clamídia, entretanto, torna a infertilidade um dos sintomas mais evidentes e é exatamente a dificuldade de engravidar que normalmente leva à procura por auxílio médico. Assim, é comum que os exames inicialmente realizados para avaliar a fertilidade feminina e masculina também sejam solicitados.
A avaliação da reserva ovariana, é o exame solicitado às mulheres, pois permite indicar a quantidade de folículos presentes no momento, estruturas que contêm os óvulos imaturos, dos menores aos que possuem capacidade para posteriormente ovular, ou seja, liberar seu óvulo para ser fecundado pelo espermatozoide.
Os homens, nesse caso, devem realizar o espermograma, que permite a análise da qualidade do sêmen e dos espermatozoides abrigados nas amostras, apontando critérios como concentração, morfologia (forma) e motilidade (movimento).
Mesmo quando há quadro de infertilidade, quanto mais precocemente o diagnóstico for feito, maiores são as chances de sucesso do tratamento e menores as de possíveis complicações resultantes da permanência da bactéria.
A principal consequência da clamídia é a DIP, doença inflamatória pélvica, caracterizada pela inflamação dos órgãos reprodutores.
Nas mulheres, por exemplo, as bactérias podem ascender da vagina ao útero e se espalhar para os outros órgãos.
No útero, podem causar endometrite, inflamação do endométrio, camada de revestimento na qual o embrião se implanta, evento que marca o início da gestação. Durante os ciclos menstruais o endométrio é preparado para recebê-lo e o processo inflamatório pode interferir nesse preparo, resultando em falhas na implantação e abortamento.
Aderências resultantes do processo inflamatório no útero, denominas sinequias uterinas, em maior quantidade podem causar ainda distorções na anatomia do órgão, dificultando ou impedindo a sustentação da gravidez, o que também resulta em perda.
Já nas tubas uterinas, órgãos que abrigam a fecundação, a inflamação, chamada salpingite, leva ao acúmulo de líquidos ou à formação de aderências que podem provocar obstruções, impedindo a captação dos óvulos e o transporte dos espermatozoides, dessa forma o encontro entre eles não acontece.
Nos ovários, ooforite, interfere no desenvolvimento, amadurecimento e rompimento dos folículos ovarianos para liberação do óvulo, provocando distúrbios de ovulação, como oligovulação, ovulação irregular e anovulação, ausência de ovulação, bem como interfere na qualidade dos óvulos.
Nos homens, por outro lado, a clamídia pode resultar na inflamação dos testículos, orquite, órgãos em que a produção dos espermatozoides acontece, interferindo nesse processo e levando a condições como a baixa concentração no sêmen, oligozoospermia ou ausência (azoospermia), causa comum de infertilidade masculina, além de também interferir na qualidade dos gametas.
Ou, atingir os epidídimos, epididimite, ductos em que amadurece após serem produzidos, provoca obstruções a partir da formação de aderências, que levam igualmente à redução ou ausência dos espermatozoides no sêmen.
Ainda que a clamídia possa causar diferentes complicações para a saúde reprodutiva de homens e mulheres, com o tratamento adequado é possível engravidar na maioria dos casos.
A primeira abordagem de tratamento para a clamídia é a administração de antibióticos que provem a cura da infecção. Para evitar a reinfecção e a disseminação da bactéria a parceria sexual também deve ser investigada e tratada.
Nos casos em que a clamídia provoca a DIP, as aderências que resultam em bloqueios tubários ou nos epidídimos devem ser removidos por cirurgia, abordagem indicada ainda para correção de possíveis distorções anatômicas.
Após o tratamento, geralmente é possível engravidar naturalmente. Se isso não acontecer, a reprodução assistida pode auxiliar.
A fertilização in vitro com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide) é a técnica indicada nesses casos. Prevê a fecundação em laboratório, dispensando a função das tubas uterinas, precedida da coleta e seleção dos melhores óvulos e espermatozoides, contornando, assim, problemas de qualidade.
Além disso, nessa técnica cada espermatozoide é injetado diretamente no citoplasma do óvulo, aumentando as chances de sucesso quando há baixa em baixa concentração no sêmen. Homens com azoospermia, por outro lado, podem ter seus gametas coletados diretamente dos epidídimos ou dos testículos, posteriormente selecionados e utilizados na fecundação.
Após se desenvolverem por até seis dias em laboratório, os embriões formados são transferidos diretamente ao útero materno, com o endométrio devidamente preparado por medicamentos hormonais, se houver histórico de falhas e abortamento.
A FIV, portanto, aumenta bastante as chances de sucesso gestacional quando a infecção por clamídia provoca danos graves à fertilidade.
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