Durante a fase fértil feminina, diferentes doenças podem comprometer a função dos órgãos reprodutores e resultar em infertilidade. A endometriose está entre elas e, atualmente, é considerada a principal causa das dificuldades reprodutivas de mulheres no mundo todo.
Embora tenha sido descrita pela primeira vez no final do século XIX, ficou mais conhecida no mundo contemporâneo, quando passou a ser frequentemente registrada. Hoje, com números em curva ascendente, é apontada como a doença da mulher moderna, o que é justificado principalmente pela tendência de adiar a maternidade.
Para orientar as mulheres portadoras, foram, inclusive, criadas associações especialmente voltadas a discussões sobre a doença e o mês de março foi instituído mundialmente como o de conscientização da endometriose com a campanha Março Amarelo.
Entre os aspectos que contribuem para os efeitos provocados pela endometriose está a demora em realizar o diagnóstico. Por isso, é fundamental a atenção aos possíveis sintomas; eles funcionam como um alerta, indicando a necessidade de procurar um especialista.
Para conhecê-los, continue a leitura deste texto até o final, que destaca, ainda, a importância do diagnóstico precoce e as principais formas de tratamento se houver, ou não, o desejo de engravidar. Confira!
A endometriose é uma doença crônica e inflamatória complexa, que pode causar diferentes complicações. Por se desenvolver lentamente, geralmente demora a ser diagnosticada, evoluindo para estágios mais graves.
A principal característica da doença é a presença de um tecido semelhante ao endométrio, que reveste internamente o útero, normalmente em locais próximos, como o peritônio, membrana serosa que recobre a cavidade abdominal e os órgão nela abrigados, os ovários, as tubas uterinas, a bexiga e o intestino.
Embora as causas exatas da endometriose ainda permaneçam desconhecidas, desde sua descoberta surgiram várias teorias para explicar o desenvolvimento. A mais aceita é a da menstruação retrógada, condição em que o sangue menstrual retorna pelas tubas uterinas carregando fragmentos do endométrio que se implantam em outras regiões.
Em todos os ciclos menstruais o endométrio é preparado para receber um possível embrião, processo chamado nidação ou implantação embrionária, quando ele se fixa nesse tecido para dar início à gestação. Por outro lado, se a fecundação não acontecer descama originando a menstruação e, junto com o sangue, seus fragmentos são expelidos do corpo pelo canal vaginal.
O estrogênio é o hormônio responsável pelo preparo, assim, sabe-se hoje que o tecido ectópico também reage à sua ação estimulando o desenvolvimento da doença, da mesma forma que ela tende a retroceder na menopausa, quando os níveis hormonais são mais baixos.
Entre os fatores de risco estão, ainda, a nuliparidade, ou seja, nunca ter tido filhos, e a maternidade tardia, o que deixa as mulheres expostas por mais tempo ao hormônio e explica os percentuais elevados da doença.
Diferentes estudos também associam a influência da genética à ocorrência da endometriose, uma vez que é alta a incidência em parentes de primeiro grau das portadoras.
No início, a endometriose afeta apenas o peritônio na maioria dos casos, as lesões são poucas e superficiais. Porém, com o desenvolvimento tende a se infiltrar e aderir aos órgãos, tornando-se mais grave e causando a manifestação de sintomas que podem comprometer a qualidade de vida.
Embora seja geralmente assintomática em estágios iniciais, à medida que a endometriose se desenvolve a presença do tecido ectópico causa um processo inflamatório e diferentes sintomas, que podem ser mais severos de acordo com o local e profundidade. A intensidade em mulheres com o mesmo grau da doença, entretanto, varia bastante.
O principal é a dor pélvica durante a menstruação. Consequência da dismenorreia secundária, cólicas decorrentes das lesões que aumentam a severidade das provocadas pela expulsão do sangue. A dor pode tornar-se crônica em estágios mais avançados e manifestar fora do período menstrual, sendo muitas vezes incapacitante, interferindo na realização de atividades diárias.
Algumas mulheres relatam ainda dor durante as relações sexuais, o que é chamado de dispareunia de profundidade.
Nos casos em que os implantes estão localizados na bexiga e intestinos, alterações nos hábitos urinários e intestinais são os sintomas mais comuns, como vontade frequente e urgente de urinar ou dificuldade acompanhada de dor, presença de sangue na urina, constipação, sangramento nas fezes, dor e dificuldade em evacuar.
A infertilidade também é um dos sintomas da endometriose. As alterações acontecem desde os estágios iniciais: o processo inflamatório pode interferir na receptividade do endométrio, período mais propício para o embrião se implantar, resultando em falhas e abortamento, ou no desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos, impedindo a ovulação.
Contudo, o problema é principalmente associado à presença de endometriomas, um tipo de cisto ovariano característico da doença que se forma em estágios moderados ou mais avançados e, em tamanho ou quantidade maiores pode causar danos aos folículos localizados ao redor, levando a perdas e diminuição da reserva ovariana, cujo resultado pode ser a infertilidade permanente.
Em estágios mais avançados, quando os implantes estão localizados nas tubas uterinas, o processo inflamatório pode provocar a formação de aderências que as obstruem, impedindo a captação do óvulo, além do transporte dos espermatozoides e do embrião ao útero para se implantar.
Mesmo que exista a tendência de os sintomas comprometerem as relações pessoais ou profissionais, levando muitas vezes ao afastamento social e desenvolvimento de transtornos emocionais, incluindo a depressão, podem ser controlados e a gravidez obtida por técnicas de reprodução assistida.
Por isso, ter atenção a eles é fundamental para o diagnóstico precoce, o que aumenta bastante as chances de sucesso do tratamento.
Quando os sintomas são mais leves ou moderados e a mulher não tem o desejo de engravidar no momento, geralmente são prescritos medicamentos hormonais para suspender a menstruação e, assim, minimizar a exposição ao estrogênio interrompendo o desenvolvimento da doença, anti-inflamatórios não esteroides (AINES) e analgésicos para aliviar dor e inflamação.
Se forem mais graves, por outro lado, é indicada a remoção cirúrgica das aderências ou endometriomas, feita normalmente por videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva.
Se a mulher desejar engravidar, a cirurgia pode ser igualmente uma opção. Porém, a remoção dos endometriomas também pode comprometer a reserva ovariana, ainda que seja feita por profissionais experientes.
Para evitar o problema, é sugerida normalmente a preservação da fertilidade, procedimento em que os óvulos são congelados previamente ao ato cirúrgico, para que no futuro possam ser utilizados em um tratamento de fertilização in vitro (FIV).
A videolaparoscopia é indicada para os casos em que a mulher tenha boa reserva ovariana e que não existam outros fatores associados que já indiquem FIV.
Optar diretamente pela fertilização in vitro, principalmente quando os endometriomas não existirem ou forem pequenos, é o mais indicado. Além disso, quando a idade da mulher for avançada (maior que 35 anos), quando houver marcadores de reserva ovariana diminuídos, quando as tubas estiverem obstruídas de forma marcante ou se houver alterações dos espermatozoides do parceiro, não existe indicação de cirurgia.
Na FIV, técnica de reprodução assistida mais complexa, a fecundação é realizada em laboratório e os embriões são transferidos diretamente ao útero materno. É possível a utilização de protocolos de medicamentos que diminuam o efeito inflamatório que a doença provoca. Por isso, a técnica proporciona ótimas chances de gravidez, já que interfere em todos os possíveis mecanismos nos quais a endometriose diminui a fertilidade.
Compartilhe esse texto nas redes sociais para que mais mulheres conheçam os sintomas da endometriose e sejam diagnosticadas precocemente, minimizando, assim, possíveis impactos da doença!