O útero, maior órgão reprodutor das mulheres, tem a importante função de abrigar, proteger e nutrir o embrião-feto até o nascimento. É dividido em três camadas de revestimento, endométrio, miométrio e perimétrio (ou serosa).
Endométrio, a interna, é um tecido epitelial altamente vascularizado que sofre alterações durante os ciclos menstruais, tornando-se mais espesso para receber um possível embrião. Nessa camada ocorre a nidação, quando ele se implanta para dar início à gestação. Se não houver fecundação, por outro lado, o endométrio descama originando a menstruação e um novo ciclo menstrual.
Na endometriose, um tecido semelhante ao endométrio cresce em órgãos próximos, porém, apesar da semelhança o crescimento anormal não ocorre no útero, embora a doença possa comprometer a função do órgão desde os estágios iniciais, bem como causar outras alterações no processo reprodutivo, resultando, muitas vezes, em infertilidade feminina.
Além disso, é conhecida por causar sintomas dolorosos, que podem comprometer bastante a qualidade de vida das mulheres portadoras. O diagnóstico precoce é um fator essencial para o sucesso do tratamento.
Continue a leitura e veja como é feito o diagnóstico da endometriose, conheça os principais aspectos dessa doença e os tratamentos indicados em cada caso. Confira!
A endometriose é uma doença inflamatória, crônica e de crescimento geralmente lento, cuja principal característica é o crescimento de um tecido semelhante ao endométrio em outros locais, geralmente no peritônio, membrana que recobre a cavidade pélvica e órgãos nela abrigados, tubas uterinas, ovários, bexiga e intestino.
É uma das doenças estrogênio-dependentes, como os miomas uterinos e pólipos endometriais, ou seja, se desenvolve motivada pela ação desse hormônio. Ainda que tenha sido descrita pela primeira vez ainda durante o século XIX e seja amplamente estudada, sua causa exata permanece desconhecida pela ciência.
No entanto, diversas teorias surgiram para justificar o desenvolvimento da doença. A mais aceita até hoje foi proposta pelo ginecologista norte-americano Albert Sampson em 1927. Sampson, que foi um dos principais estudiosos sobre o assunto, sugere que a endometriose se desenvolve como consequência da menstruação retrógrada.
Quando ocorre a descamação do endométrio e a menstruação, os fragmentos desse tecido são eliminados junto com o sangue menstrual. Na menstruação retrógrada, parte desse sangue retorna pelas uterinas carregando os fragmentos endometriais que se implantam em outros locais.
A presença do tecido anormal causa um processo inflamatório, que pode provocar diferentes sintomas, incluindo infertilidade, independentemente da quantidade de implantes presentes. Os sintomas variam de acordo com o local de crescimento, critério também utilizado para classificar os diferentes tipos da doença.
Embora nem toda mulher com endometriose apresente sintomas, quando estão presentes funcionam como importante alerta para procurar um especialista, facilitando, dessa forma, o diagnóstico precoce.
Mulheres com endometriose tendem a apresentar cólicas severas antes e durante o ciclo menstrual. Com a progressão da doença, a dor pélvica pode se tornar crônica. Outros sintomas também podem ocorrer de acordo com o local de crescimento, como dispareunia de profundidade (dor durante as relações sexuais), micção frequente e urgente ou dificuldade acompanhada de dor, constipação cíclica e presença de sangue nas fezes.
A dispareunia normalmente surge quando há presença de implantes nos ligamentos uterossacros, que sustentam útero na cavidade pélvica, enquanto as disfunções urinárias e intestinais são consequência da doença na bexiga e intestino.
A infertilidade é igualmente considerada um sintoma e as interferências na capacidade reprodutiva podem ocorrer desde os estágios iniciais, quando as lesões ainda são planas, rasas e localizadas apenas no peritônio (endometriose superficial).
Especula-se que o processo inflamatório possa interferir no preparo do endométrio, resultando em falhas na implantação e abortamento, apesar de essa relação de causa e efeito não ser evidente. Pode ainda acometer o desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos, que contêm os óvulos imaturos, provocando distúrbios de ovulação. Nos ovários, endometriose ovariana, os implantes formam um tipo de cisto conhecido como endometrioma nos estágios moderados e graves da doença.
Em tamanhos ou quantidades maiores, podem causar danos aos folículos ao redor e dessa forma a diminuição dos níveis da reserva ovariana, quantidade de folículos presentes desde o nascimento que vão ser utilizados durante a idade fértil. Nesse caso, a infertilidade muitas vezes pode ser permanente.
Além disso, também tendem a interferir no desenvolvimento e amadurecimento folicular, por isso, a endometriose ovariana é o tipo mais associado à infertilidade feminina.
Já nas tubas uterinas, podem provocar distorções anatômicas, bem com o processo inflamatório pode resultar na formação de aderência que alteram a sua mobilidade e em casos mais graves podem inclusive as obstruir. Em ambos os casos a função de transportar os gametas (óvulos e espermatozoides) e o embrião formado ao útero pode ser prejudicada. Assim, a fecundação ou implantação do embrião não acontecem.
Veja abaixo como é feito o diagnóstico da endometriose:
O exame considerado padrão-ouro para o diagnóstico da endometriose é ultrassonografia transvaginal com preparo especial, que prevê o uso anterior de medicamentos com objetivo de reduzir o gás intestinal, possibilitando uma visualização mais detalhada dos órgãos reprodutores e dos implantes endometriais.
Esse exame diagnostica com bastante precisão os endometriomas, distinguindo-os, inclusive, de outras massas anexiais, além de indicar a localização e profundidade de implantes, que tendem a se infiltrar nos órgãos à medida que a doença se desenvolve. Nesse estágio, é classificada como endometriose infiltrativa profunda.
Sua alta sensibilidade geralmente possibilita, ainda, detectar as lesões planas e rasas presentes na endometriose superficial. Nesse caso, se o diagnóstico for inconclusivo, podem ser solicitados outros complementares, como a ressonância magnética e a vídeo-histeroscopia ambulatorial, que permite a visualização direta.
Muitas vezes, a endometriose é diagnostica de forma incidental, durante os exames de rotina. Isso acontece particularmente por sua assintomatologia em alguns casos, principalmente nos estágios iniciais, e caráter de progressão lenta.
Por outro lado, os sintomas quando estão presentes são um importante alerta. Ainda que atualmente os tratamentos disponíveis possam proporcionar do alívio à obtenção da gravidez, o diagnóstico precoce contribui muito para aumentar as chances de sucesso.
O tratamento da endometriose é sempre individualizado, definido a partir dos resultados diagnósticos. Considera, ainda, o desejo da mulher de engravidar no momento e a severidade dos sintomas.
Quando os sintomas são menos graves e não há o desejo de engravidar são prescritos medicamentos hormonais, que promovem a suspensão da menstruação e, dessa forma, a exposição ao estrogênio; anti-inflamatórios não esteroides (AINES) e analgésicos para aliviar inflamação e dor.
Nos casos mais graves, quando são mais severos e/ou a infertilidade está entre eles, é indicada a cirurgia para remoção de implantes, aderências ou endometriomas. Porém, se a mulher desejar engravidar a opção pela cirurgia considera a idade, os níveis da reserva ovariana, a saúde das tubas uterinas e dos espermatozoides do parceiro.
Para mulheres acima dos 36 anos, com baixos níveis da reserva ovariana, ou obstruções tubárias, ou se existirem ainda fatores de infertilidade masculinos envolvidos, a indicação passa a ser o tratamento com a principal técnica de reprodução assistida, a fertilização in vitro (FIV).
A FIV reproduz, de forma controlada, etapas importantes da gravidez, como a fecundação e o desenvolvimento inicial dos embriões, possibilitando, assim, contornar diferentes problemas. Depois de alguns dias de desenvolvimento, os embriões são transferidos diretamente ao útero materno.
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