Maior e principal órgão do sistema reprodutor feminino, o útero é dividido em três camadas de revestimento, duas delas participam do processo gestacional; endométrio, a interna e miométrio, a intermediária.
Endométrio é um tecido epitelial composto por glândulas, estromas e vasos sanguíneos. Altamente vascularizado, possui duas camadas, uma basal, que se liga ao útero, e uma funcional, que sofre variações durante o ciclo menstrual.
Desde o início do ciclo menstrual, o endométrio é preparado pelo estrogênio, principal hormônio feminino, para receber um possível embrião. A camada funcional se torna mais espessa e vascularizada, proporcionando um ambiente adequado para que ele possa se implantar.
Implantação é o processo em que se fixa ao endométrio iniciando a gestação. Se a fecundação não ocorrer, ou seja, se o espermatozoide não penetrar o óvulo formando o embrião, a camada funcional descama originando a menstruação, que marca o começo de um novo ciclo menstrual.
Endometriose é uma das doenças relacionadas ao endométrio. Pode causar sintomas dolorosos, que comprometem a qualidade de vida das portadoras, bem como infertilidade. É, inclusive, apontada atualmente como a principal causa de infertilidade feminina. No entanto, os sintomas podem ser aliviados e a gravidez obtida com o tratamento adequado na maioria dos casos. Continue a leitura até o final e veja em detalhes como é feito. Confira!
Uma doença inflamatória e crônica, a endometriose tem como característica o crescimento anormal de um tecido semelhante ao endométrio fora do útero, geralmente em locais próximos como peritônio, ovários, tubas uterinas, bexiga e intestino.
É estrogênio-dependente, o que significa que se desenvolve motivada pela ação desse hormônio durante os ciclos menstruais, embora isso aconteça geralmente de forma lenta. A exposição prolongada ao estrogênio é considerada fator de risco para o surgimento da doença, afetando particularmente as mulheres nulíparas, que nunca tiveram filhos.
Ainda que a causa exata da endometriose não seja conhecida pela ciência, entre as teorias que surgiram desde que foi descrita pela primeira vez, no século XIV, a da menstruação retrógada, proposta pelo ginecologista norte americano Albert Sampson, permanece como a mais aceita pela comunidade científica.
Nesse fenômeno, parte do sangue menstrual, em vez de ser eliminado completamente pelo útero para vagina, retornaria pelas tubas uterinas. Sampson sugere que os fragmentos do endométrio naturalmente eliminados pela menstruação, também retornam junto com o sangue e se implantam em outros locais. O local de crescimento, assim como a profundidade dessas lesões são fatores considerados para a classificação da doença.
Por exemplo, quando são rasas e estão presentes apenas no peritônio, membrana que recobre a cavidade pélvica e os órgãos nela abrigados, é classificada como endometriose peritoneal superficial; se forem mais profundos, infiltrativa profunda; e, quando afeta os ovários, ovariana.
Além de serem fatores para classificação da doença, local de crescimento e profundidade são ainda determinantes dos possíveis sintomas manifestados, geralmente severos, incluindo infertilidade. Porém, muitas mulheres são assintomáticas, principalmente nos estágios iniciais, dificultando o diagnóstico precoce.
A falta de sintomas da endometriose e o desenvolvimento geralmente lento são características que normalmente levam ao diagnóstico tardio. Para se ter uma ideia, é comum que as mulheres descubram a doença anos após o início, quando os sintomas tendem a ser mais severos e já causou maiores danos à saúde geral e reprodutiva.
O principal sintoma que alerta para sua presença é a dor pélvica crônica, inicialmente se manifesta como cólicas severas antes e durante a menstruação, no entanto, com o desenvolvimento da doença passa a ocorrer também fora do período menstrual e pode ser incapacitante, interferindo nas atividades do dia a dia.
Dor durante as relações sexuais (dispareunia) e alterações nos hábitos intestinais ou urinários, como micção urgente e frequente e constipação cíclica (no período menstrual) estão ainda entre as possíveis manifestações.
A infertilidade é igualmente considerada um sintoma, e pode ocorrer desde os estágios iniciais, sendo, nesse caso, o principal indicativo da doença. Normalmente, é consequência do processo inflamatório provocado pela presença do tecido ectópico, que pode interferir no preparo endometrial provocando falhas na implantação e abortamento, ou comprometer o desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos, resultando em distúrbios de ovulação.
Nos estágios mais avançados, por outro lado, outras interferências mais graves podem ocorrer. Os endometriomas, cistos ovarianos formados por tecido ectópico e sangue envelhecido, em tamanhos maiores causam danos aos folículos ao redor, comprometendo a reserva ovariana, o que pode resultar em infertilidade permanente.
Já nas tubas uterinas, o tecido ectópico impede a captura do óvulo, o transporte dos espermatozoides ou do embrião formado ao útero para se implantar, efeitos igualmente provocados por aderências consequentes do processo inflamatório.
O exame padrão para diagnosticar a endometriose é a ultrassonografia transvaginal com preparo especial, que diagnostica com bastante precisão a localização e profundidade dos implantes, bem como permite a diferenciar os endometriomas de outras massas. Outros exames podem ser ainda solicitados de forma complementar, como a ressonância magnética e a histerossalpingografia.
Os resultados diagnósticos orientam o tratamento mais adequado em cada caso, inclusive se houver quadro de infertilidade.
O tratamento da endometriose considera, ainda, o desejo da mulher de engravidar no momento e a severidade dos sintomas, cuja intensidade pode variar entre as portadoras, independentemente da quantidade de tecido ectópico presente.
Às mulheres com sintomas mais leves, que não desejam engravidar, são prescritos medicamentos hormonais para suspensão da menstruação. Dessa forma, a ação do estrogênio é minimizada, aliviando-os.
Se forem mais severos ou a mulher desejar engravidar, a cirurgia se torna a principal opção. O procedimento é realizado por videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva, e tem como objetivo a remoção de implantes, endometriomas maiores ou aderências que podem se formar como consequência do processo inflamatório.
Se for necessária a remoção de endometriomas, geralmente é recomenda a preservação da fertilidade antes do procedimento, o que é feito pelo congelamento de óvulos, utilizados posteriormente no tratamento por fertilização in vitro (FIV), principal técnica de reprodução assistida em que a fecundação é realizada em laboratório.
Isso porque, mesmo quando os profissionais têm grande experiência, há o risco de o processo de remoção danificar os folículos localizados ao redor, levando à redução dos níveis da reserva ovariana.
Assim, a cirurgia é opção apenas quando a mulher tem uma boa reserva ovariana e se não existirem outros fatores de infertilidade associados, como obstruções tubárias marcantes ou alterações nos espermatozoides do parceiro. Para esses casos, é indicado o tratamento por reprodução assistida.
Mulheres com até 35 anos, idade em que os níveis da reserva ovariana ainda estão altos, tubas uterinas permeáveis, endometriose nos estágios iniciais e infertilidade por distúrbios de ovulação leves, podem ter a gravidez inicialmente auxiliada pela relação sexual programada (RSP).
O tratamento por RSP prevê a estimulação ovariana, procedimento que estimula os ovários com medicamentos hormonais para obter de 1 a 4 óvulos disponíveis e a programação do período de maior fertilidade para intensificar a relação sexual. Ou seja, a fecundação acontece naturalmente, nas tubas uterinas, por isso os espermatozoides do parceiro devem estar saudáveis.
Para mulheres acima de 35 anos, com baixos níveis de reserva ovariana e/ou outros fatores de infertilidade envolvidos, é indicado o tratamento por FIV, que utiliza protocolos de medicamentos para diminuir o efeito inflamatório que a doença provoca e contorna diferentes problemas de infertilidade consequentes da endometriose.
Na FIV, após a fecundação os embriões formados se desenvolvem por alguns dias em laboratório e são transferidos diretamente ao útero materno.
O tratamento da endometriose, portanto, permite desde o alívio dos sintomas à obtenção da gravidez. Compartilhe esse texto nas redes sociais para que seus amigos também vejam em detalhes como é feito!