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Espermograma: o que ?
Por Prof. Dr. Gustavo André
Os espermatozoides são os gametas ou células sexuais do homem, carregam as informações genéticas transmitidas aos filhos quando ocorre a fusão com o óvulo na fecundação.
São produzidos de forma contínua desde a puberdade. O processo, chamado espermatogênese, acontece nos testículos em estruturas enoveladas localizadas nos lóbulos testiculares, os túbulos seminíferos.
Depois de produzidos, são transportados aos epidídimos, ductos em que amadurecem e permanecem armazenados até que ocorra o estímulo sexual. Posteriormente, aos ductos deferentes, quando recebem os líquidos seminais formando o sêmen, uma substância cremosa esbranquiçada e alcalina que os protege do ambiente ácido da vagina, assim como facilita o transporte até o óvulo.
Os espermatozoides são compostos por cabeça, em que fica armazenado o núcleo com o material genético, peça intermediária e cauda com flagelo, que permite o movimento no organismo feminino.
Para a gravidez ser bem-sucedida, a espermatogênese deve ocorrer sem nenhuma interferência, assim como os espermatozoides e o sêmen devem estar saudáveis. Alterações podem indicar quadros de subfertilidade ou infertilidade masculina e são apontadas pelo espermograma, exame padrão para avaliar a fertilidade dos homens.
Continue a leitura para saber em detalhes o que é espermograma, o que avalia, quais alterações pode indicar e os tratamentos quando o diagnóstico é de infertilidade. Confira!
O que é espermograma?
Espermograma é o primeiro exame solicitado quando o homem não consegue engravidar sua parceira após um ano de tentativas sem o uso de métodos contraceptivos, o que caracteriza quadros de infertilidade, que pode ser masculina, feminina ou de ambos.
Também conhecido como análise seminal, o espermograma faz uma avaliação macroscópica e microscópica de diferentes amostras de sêmen.
Assim, permite indicar critérios como volume, viscosidade e pH do sêmen, por exemplo, bem como características dos espermatozoides abrigados nas amostras, incluindo a concentração, número presente, e possíveis alterações na estrutura – morfologia (forma) e motilidade (movimento) – determinando percentualmente os que podem estar prejudicados.
Idealmente, são solicitadas de duas a três amostras, que podem ser coletadas em intervalos de aproximadamente 15 dias, pois a contagem de espermatozoides sofre uma variação diária e dessa forma conseguiríamos entender a média de produção.
O espermograma pode diagnosticar condições como:
- oligozoospermia: baixa concentração de espermatozoides nas amostras;
- azoospermia: ausência de espermatozoides nas amostras analisadas;
- astenozoospermia: indica percentualmente os espermatozoides com motilidade reduzida;
- teratozoospermia: indica grande percentual de espermatozoides com morfologia anormal.
Entenda como é feita a avaliação da infertilidade
Os resultados do espermograma são comparados aos limites de referência estabelecidos após diversos estudos realizados em amostras de sêmen saudável e com alterações. Ou seja, em casais que conseguiram obter a gravidez com sucesso e nos que apresentaram dificuldades.
A probabilidade de engravidar é menor quando o exame apresenta os seguintes valores:
- volume de sêmen: 1,4 mililitros (mL) ou menos;
- pH do sêmen: 7,0 ou inferior;
- contagem total de espermatozoides: 38 milhões de espermatozoides por amostra ou menos;
- concentração de espermatozoides: 14 milhões de espermatozoides por mL ou menos;
- motilidade espermática progressiva: 31% ou menos;
- morfologia espermática: 3% ou menos dos espermatozoides presentes têm uma forma normal;
- leucócitos: mais de 1 milhão.
Resultados anormais sugerem condições de saúde subjacentes, que afetam a quantidade de espermatozoides produzidos ou sua capacidade de alcançar e fertilizar um óvulo. O número alto de leucócitos, por exemplo, pode indicar processos inflamatórios nos órgãos reprodutores, como orquite (nos testículos) e epididimite (nos epidídimos), causados na maioria das vezes por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), sendo os agentes causais mais comuns a clamídia e o gonococo (gonorreia).
Essas inflamações podem interferir na espermatogênese ou provocar a formação de aderências, resultando em oligozoospermia, baixa concentração de espermatozoides no sêmen, quadro de subfertilidade em que há maior dificuldades para engravidar a parceira, ou azoospermia, causa comum de infertilidade masculina.
Também afetam a qualidade dos espermatozoides e levam ao desequilíbrio dos níveis de testosterona, principal hormônio masculino essencial para produção.
Uma doença masculina frequentemente diagnosticada, a varicocele, caracterizada pela formação de varizes testiculares, também interfere no processo de produção e na qualidade dos gametas por causar aumento do estresse oxidativo em decorrência da dificuldade em retorno do sangue com toxinas e do aumento na temperatura da bolsa testicular, que deveria manter os testículos no grau ideal para que a espermatogênese aconteça.
Tabagismo, alcoolismo, exposição a produtos químicos ou tóxicos e o uso de medicamentos para o tratamento de câncer são considerados ainda fatores de risco.
Infertilidade e reprodução assistida
Duas técnicas de reprodução assistida podem ser indicadas para o tratamento da infertilidade masculina, como opção primária ou se as abordagens iniciais não forem bem-sucedidas, de acordo com cada caso: inseminação artificial (IA) e fertilização in vitro (FIV) com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide).
A IA geralmente é indicada quando o espermograma aponta apenas pequenas alterações na morfologia ou motilidade dos espermatozoides; os melhores são selecionados por técnicas de preparo seminal e inseridos diretamente no útero da parceira durante o período fértil. Porém, suas tubas uterinas devem estar permeáveis, uma vez que fecundação acontece nesses órgãos como na gestação espontânea, assim como a reserva ovariana e idade serem adequadas.
Quando os problemas são mais graves, por outro lado, o tratamento é feito por FIV com ICSI, técnica em que a fecundação e o desenvolvimento inicial dos embriões formados acontecem em ambiente laboratorial, com posterior transferência ao útero materno.
Na FIV com ICSI, além de os melhores espermatozoides serem selecionados pelo preparo seminal, cada um é novamente avaliado, em movimento, por um microscópio de alta magnificação e, posteriormente, injetado diretamente no citoplasma do óvulo, solucionando, dessa forma, problemas de má qualidade e baixa concentração no sêmen (oligozoospermia).
Nos casos em que não estão presentes no sêmen (azoospermia), podem ser recuperados diretamente dos epidídimos ou testículos por métodos de recuperação espermática, selecionados pelo preparo seminal e usados na fecundação.
Espermatozoides com má qualidade resultam em aneuploidias, presença ou ausência de mais de um cromossomo do que o normal, levando à formação de embriões com a saúde comprometida, que não conseguem se implantar no endométrio, camada interna uterina em que se fixam para dar início à gestação. Dessa forma, ocorrem falhas e abortamento.
Assim, quando a parceira tem perdas sucessivas de gravidez clinicamente confirmada é possível contar ainda com o PGT (teste genético pré-implantacional), técnica complementar à FIV em que as células embrionárias são analisadas para detectar distúrbios genéticos, permitindo que apenas os mais saudáveis sejam transferidos ao útero.
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Reserva ovariana: o que é?
Por Prof. Dr. Gustavo André
Embora a gravidez pareça incialmente ser um processo simples é bastante complexo e diferentes elementos estão envolvidos. As células sexuais ou gametas de mulheres e homens, óvulos e espermatozoides, são considerados os mais importantes, pois a partir da fusão entre eles durante a fecundação é gerada a primeira célula do futuro ser humano.
Os homens produzem seus gametas desde a puberdade de forma contínua, durante toda a vida. Já as mulheres nascem com eles armazenados nos ovários, em estruturas denominadas folículos. Quando os ciclos menstruais se iniciam, o que também acontece na puberdade, cada ovário libera um óvulo por ciclo para ser fecundado pelo espermatozoide, ação que se repete até não existirem mais folículos.
Entenda, neste texto, o que é reserva ovariana e qual sua importância para a fertilidade das mulheres. Continue a leitura até o final e confira!
O que reserva ovariana?
Reserva ovariana é o termo utilizado para definir a quantidade de folículos presentes nos ovários. No nascimento, o número é de aproximadamente 2 milhões e reduz até a puberdade para cerca de 400 mil.
Em cada ciclo menstrual, estima-se que mais ou menos 1.000 folículos sejam recrutados e cresçam, porém apenas um se desenvolve o suficiente, amadurece e rompe liberando seu óvulo na ovulação, os outros são naturalmente eliminados.
O estoque de folículos se esgota na menopausa, quando os ovários entram em falência e a fase fértil das mulheres chega ao fim. Durante esse período, a dificuldade de engravidar é maior à medida que os níveis da reserva ovariana diminuem, assim, as chances são mais altas até os 37 anos, a partir dessa idade o declínio é bastante acentuado e além da redução dos níveis a qualidade dos óvulos é igualmente comprometida.
Dessa forma, o tempo limitado para engravidar torna a idade o principal fator de infertilidade feminina, embora na fase reprodutiva algumas condições possam provocar alterações na reserva ovariana.
As consequências, nesse caso, são distúrbios ovulatórios, dificuldades no desenvolvimento, amadurecimento e ruptura dos folículos, que resultam em ovulação irregular (oligovulação) ou ausente (anovulação), causas comuns de infertilidade. A qualidade dos óvulos também pode ser afetada, bem como a função ovariana pode ser interrompida.
Óvulos de má qualidade aumentam o risco de aneuploidias, anormalidades cromossômicas em que há presença ou ausência de mais cromossomos do que o normal. A ocorrência de processos infecciosos nos ovários, situação conhecida como ooforite, que pode ser decorrente tanto de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como clamídia e gonococo, quanto de situações como tuberculose ou parotidite (caxumba), podem levar à perda de tecido ovariano, incluindo os folículos.
O ciclo menstrual é coordenado por diferentes hormônios, que precisam estar em equilíbrio para as etapas iniciais da gravidez serem bem-sucedidas. Quando a reserva ovariana está diminuída, pode haver uma falta de sincronia entre os estímulos hormonais vindas da hipófise e a resposta ovariana e endometrial, dificultando a gravidez e em outros cenários aumentando o risco de abortamento.
A reserva ovariana pode ser ainda afetada pela presença de endometriomas, um tipo de cisto característico da endometriose que cresce no córtex ovariano, região em que ficam localizados os folículos, causando danos nos que estão ao redor em tamanhos ou quantidades maiores, levando muitas vezes à infertilidade permanente.
Pior ainda se houver a abordagem cirúrgica dos endometriomas ou outro tipo de tumor ovariano, comprometendo muitas vezes o estoque de oócitos. Realizar o congelamento de óvulos previamente a esse tipo de cirurgia pode ser uma grande arma estratégica.
Lesões nos ovários ou doenças genéticas podem provocar uma condição conhecida como menopausa precoce ou falência ovariana prematura (FOP), em que a falência da função dos ovários ocorre antes dos 40 anos.
Avaliação da reserva ovariana
A reserva ovariana, portanto, indica a capacidade reprodutiva da mulher. Avaliação da reserva ovariana é o termo utilizado para denominar os testes que indicam a quantidade de folículos presentes nos ovários, definindo, dessa forma, o potencial para engravidar no momento em que são realizados. É o método inicialmente utilizado para avaliar a fertilidade feminina.
O primeiro normalmente solicitado é a ultrassonografia transvaginal, por sua sensibilidade em detectar da quantidade de folículos menores aos que possuem capacidade para desenvolver, amadurecer e ovular, chamados de antrais.
De maneira complementar, podem ser realizados ainda os testes que analisam o hormônio antimülleriano, produzido por células da granulosa dos folículos pré-antrais e antrais iniciais, e/ou o FSH (hormônio folículo-dominante), que atua no recrutamento e crescimento folicular.
No entanto, apesar de os testes determinarem os níveis da reserva ovariana, não avaliam a qualidade dos óvulos. O melhor preditor de qualidade continua sendo a idade da mulher.
Reprodução assistida
Mulheres com distúrbios ovulatórios podem contar com a reprodução assistida para auxiliar a gravidez. Os tratamentos são realizados de forma primária ou como segunda opção após outras condutas médicas.
Os testes de avaliação da reserva ovariana são importantes para definição da técnica mais adequada em cada caso, da dosagem correta dos medicamentos hormonais utilizados na estimulação ovariana ou mesmo predizer a resposta inadequada ao procedimento.
Estimulação ovariana é a primeira etapa das três técnicas de reprodução assistida, tem como objetivo estimular o desenvolvimento, amadurecimento e rompimento de mais folículos para obter uma quantidade maior de óvulos para a fecundação.
As técnicas de reprodução assistida são classificadas de acordo com a complexidade dos tratamentos, critério que interfere na definição da dosagem hormonal utilizada em cada uma e indicação do tratamento.
Relação sexual programada (RSP) e inseminação artificial (IA) são de baixa complexidade, indicadas para mulheres com até 37 anos, ainda com altos níveis da reserva ovariana, e fertilização in vitro (FIV), de alta complexidade, para as que estão acima dessa idade, quando o declínio já é acentuado, ou diagnosticadas com outros fatores de infertilidade associados.
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Doação de óvulos: como é feita e quem pode fazer?
Por Prof. Dr. Gustavo André
Uma das áreas da medicina, a reprodução assistida se tornou amplamente conhecida nas sociedades contemporâneas. Reúne um conjunto de técnicas e procedimentos que auxiliam a gravidez, desenvolvidas inicialmente para mulheres e homens diagnosticados com infertilidade.
Atualmente, entretanto, qualquer pessoa que deseje ter filhos biológicos pode recorrer aos tratamentos, independentemente da saúde reprodutiva, orientação sexual ou identidade de gênero. Evolução, que acompanhou os avanços tecnológicos e as necessidades atuais.
A doação de óvulos está entre os procedimentos disponíveis, no entanto, assim como outros deve seguir as regras determinadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), órgão que orienta a reprodução assistida no Brasil. Acompanhe o texto até o final e saiba como a doação de óvulos é feita e quem pode fazer. Confira!
O que é doação de óvulos e quais regras orientam o procedimento?
Doação de óvulos é o nome atribuído ao procedimento em que mulheres saudáveis doam suas células sexuais ou gametas para que outras pessoas possam engravidar. É particularmente indicada nas seguintes situações:
- para mulheres que não podem engravidar com os próprios gametas, como consequência de problemas de infertilidade, adquiridos ou genéticos, que impactaram a reserva ovariana, quantidade de folículos, estruturas que contêm os óvulos imaturos, presentes desde o nascimento;
- para mulheres que tiveram seus ovários removidos (ooforectomia);
- para mulheres acima dos 40 anos, idade em que geralmente os níveis da reserva ovariana e a qualidade dos óvulos são mais baixos;
- para homens solteiros que desejam uma gravidez independente;
- para casais homoafetivos masculinos.
De acordo com o CFM, a doação pode ser feita por mulheres com até 37 anos, idade em que os níveis da reserva ovariana ainda estão altos. Pode ser anônima, ou seja, sem que a doadora conheça a identidade dos receptores e vice-versa, ou efetuada por parentes de até quarto grau quando casais realizam o tratamento, desde que não incorra em consanguinidade.
Além disso, o CFM determina que não pode haver qualquer tipo de relação comercial, assim, a doação de óvulos deve ser obrigatoriamente voluntária.
Entenda como a doação de óvulos é feita na reprodução assistida
A doação de óvulos é uma das técnicas complementares à fertilização in vitro (FIV), considerada o principal tratamento da reprodução assistida e de maior complexidade, que reproduz em laboratório etapas da gravidez como a fecundação, fusão do óvulo com o espermatozoide, e o desenvolvimento inicial dos embriões formados nesse processo.
Inicialmente, a mulher é submetida a diferentes exames, que confirmam a saúde geral e dos gametas. São analisadas, por exemplo, a incidência de doenças genéticas que podem ser transmitidas ou de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como clamídia e gonorreia, que comprometem a qualidade dos óvulos.
Após ter a saúde confirmada, passa pela estimulação ovariana, em que medicamentos hormonais são administrados para estimular a função ovariana e obter uma quantidade maior de folículos e óvulos maduros. No ciclo menstrual natural, apesar de vários folículos serem recrutados apenas um deles se torna dominante, desenvolve, amadurece e rompe liberando seu óvulo na ovulação.
O desenvolvimento dos folículos é acompanhado por exames de ultrassonografia transvaginal realizados a cada dois ou três dias. Eles indicam o momento em que atingem o auge do desenvolvimento, quando novos medicamentos os induzem ao amadurecimento final e rompimento. A ovulação ocorre, então, em aproximadamente 36 horas.
Nesse período, os folículos maduros são coletados individualmente por punção folicular; os óvulos são posteriormente extraídos e selecionados em laboratório. Podem ser utilizados a fresco ou congelados, de acordo com cada caso.
Durante a fecundação, realizada atualmente por ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide) na maioria das clínicas de reprodução assistida, cada gameta masculino é injetado diretamente no feminino, o que aumenta as chances de sucesso permitindo que um número maior de embriões seja formado.
Os embriões são acomodados em incubadoras, em meios de cultura que simulam o ambiente natural, em que se desenvolvem por até seis dias. Podem ser transferidos ao útero da mulher que vai gestar em dois estágios de desenvolvimento, D3 ou clivagem, entre o segundo e terceiro dia, ou no blastocisto, entre o quinto e sexto dia.
O número de embriões a serem transferidos também é determinado pelo CFM. Mulheres com até 37 anos podem receber entre 1 e 2 embriões e, acima dessa idade, até 3 embriões. Os embriões excedentes são congelados para serem utilizados em um próximo ciclo de tratamento ou no futuro para uma nova gravidez.
A FIV permite ainda a doação de óvulos compartilhada, processo em que os custos entre a doadora e receptores em tratamento são compartilhados, sendo mantido o anonimato. Porém, nesse caso, a doadora tem preferência pelo material biológico.
Os percentuais de sucesso gestacional proporcionados pela FIV são os mais altos da reprodução assistida, independentemente de o tratamento ser realizado com óvulos próprios ou doados.
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Endometriose e reprodução assistida: saiba mais sobre as possibilidades de engravidar
Por Prof. Dr. Gustavo André
A endometriose é a doença de maior incidência entre as mulheres contemporâneas. Tem como característica o crescimento de um tecido semelhante ao endométrio, que reveste a camada interna uterina, fora do útero em locais próximos.
O endométrio é composto por tecido epitelial, glândulas, estromas e vasos sanguíneos, que durante os ciclos menstruais, estimulado pelos níveis de estrogênio torna-se mais espesso e vascularizado, criando as condições adequadas para receber um possível embrião formado na fecundação, que se fixa nessa camada para dar início à gestação, processo conhecido como implantação ou nidação.
Se não houver fecundação, descama originando a menstruação, em que são eliminados os fragmentos endometriais, e um novo ciclo menstrual.
O fenômeno conhecido como menstruação retrógada, quando parte do sangue retorna pelas tubas uterinas em vez de sair pelo útero, é sugerido com a causa mais provável da endometriose. A teoria, proposta pelo ginecologista norte americano Albert Sampson nas primeiras décadas do século XX ainda é a mais aceita.
Segundo ele, os fragmentos do endométrio que deveriam ser eliminados junto com o sangue, também retornam pelas tubas uterinas e se implantam em outros locais.
Inicialmente, afeta o peritônio, membrana que reveste a cavidade pélvica e os órgãos nela abrigados, com lesões que ainda são planas e rasas. À medida que se desenvolve, o tecido ectópico invade os órgãos até se infiltrar profundamente.
Esses são critérios utilizados para determinar os diferentes tipos de endometriose, que podem impactar a saúde feminina de diferentes formas, incluindo a capacidade reprodutiva, resultando muitas vezes em fertilidade.
Apesar de nem todas as mulheres com a doença se tornarem inférteis, a opção deve ser considerada quando se recebe o diagnóstico, ainda que as técnicas de reprodução assistida possam auxiliar a gravidez na maioria dos casos.
Continue a leitura até o final para entender melhor como os diferentes tipos de endometriose podem comprometer a fertilidade e a possibilidade de engravidar pela reprodução assistida. Confira!
Conheça os tipos de endometriose e saiba como eles podem comprometer a fertilidade feminina
Uma das características da endometriose é ser geralmente de crescimento lento, assim, pode demorar muitos anos para ser diagnosticada. Além disso, mesmo que desde o início a presença do tecido ectópico provoque um processo inflamatório no local, responsável pelos diferentes sintomas que podem se apresentar, incluindo a infertilidade, ela tende a ser silenciosa nesses estágios, o que contribui para o diagnóstico tardio.
Contudo, esse tipo de endometriose, denominado peritoneal superficial, também pode afetar a fertilidade. O processo inflamatório, pode interferir no desenvolvimento, amadurecimento e rompimento dos folículos ovarianos, resultando em distúrbios de ovulação, quando o óvulo é liberado pelos ovários apenas em alguns ciclos anuais, oligovulação, ou a ovulação não acontece em nenhum ciclo, anovulação.
Pode, ainda, interferir no preparo adequado do endométrio, resultando em falhas na implantação do embrião e abortamento.
Com o desenvolvimento da doença, o tecido ectópico invade os órgãos. Nas tubas uterinas, órgãos conectados ao útero que o ligam aos ovários e abrigam a fecundação, o processo inflamatório pode levar ao acúmulo de líquidos em seu interior, bem como provocar a formação de aderências, situações que resultam em bloqueios e impedem a fecundação.
Ao se infiltrar nos ovários, forma endometriomas, um tipo de cisto ovariano composto por tecido ectópico e sangue envelhecido, localizados no córtex ovariano, região em que os folículos ficam abrigados.
Assim, além de interferirem no processo de desenvolvimento e amadurecimento folicular, os endometriomas tendem a causar danos nos folículos ao redor e, em tamanhos ou quantidades maiores, podem comprometer a reserva ovariana, resultando muitas vezes em infertilidade permanente.
Por esse motivo a endometriose ovariana ou endometrioma, como é conhecido esse tipo, é a mais associada à infertilidade feminina, considerada, inclusive, a principal causa de infertilidade feminina atualmente.
Nos estágios mais avançados, o tecido ectópico já invadiu e se infiltrou profundamente em vários órgãos, além de reunir todas as características dos outros tipos, como as lesões peritoneais e os endometriomas, interferindo, assim, de diferentes formas na fertilidade das mulheres.
Além da infertilidade, nesse tipo, endometriose infiltrativa profunda, outros sintomas podem surgir. O mais marcante é a dor pélvica, inicialmente percebida pelo aumento da severidade das cólicas menstruais, o que pode ocorrer à medida que a doença se desenvolve. Porém, na endometriose profunda a dor tende se tornar crônica.
Dor durante as relações sexuais (dispareunia), bem como alterações nos hábitos urinários e intestinais, principalmente no período menstrual, podem ainda surgir quando o tecido ectópico invade os ligamentos uterossacros, a vagina, a bexiga e o intestino.
Reprodução assistida para mulheres com infertilidade por endometriose
Duas técnicas de reprodução assistida podem auxiliar a gravidez de mulheres com endometriose, a relação sexual programada (RSP), de menor complexidade, e a fertilização in vitro (FIV), de maior complexidade.
A RSP geralmente é indicada como primeira opção de tratamento para mulheres com endometriose em estágios iniciais, que apresentam apenas problemas como distúrbios ovulatórios mais leves.
Essa técnica, prevê a estimulação ovariana, procedimentos em que medicamentos hormonais para estimular a função ovariana e obter até 3 óvulos disponíveis para a fecundação. Exames de ultrassonografia transvaginal acompanham o desenvolvimento dos folículos indicando o momento ideal para intensificar a relação sexual, quando eles atingem o auge e novos os medicamentos os induzem ao amadurecimento final e ovulação.
A fecundação acontece naturalmente, nas tubas uterinas, por isso elas devem estar permeáveis, sem nenhuma obstrução, bem como os níveis da reserva ovariana ainda devem estar altos e os espermatozoides do parceiro dentro dos padrões de normalidade.
A FIV, por outro lado, é a técnica de reprodução assistida indicada para os casos mais graves de endometriose, quando os tratamentos primários clássicos não forem bem-sucedidos, ou quando for indicada a remoção de endometriomas maiores, o que sugere a necessidade de congelamento dos óvulos para preservação da fertilidade antes de o procedimento ser realizado, posteriormente utilizados no tratamento com a técnica.
Na FIV a fecundação acontece em laboratório, precedida da coleta e seleção dos melhores óvulos, obtidos com a estimulação ovariana e espermatozoides. Os gametas masculinos são injetados diretamente nos femininos com auxílio de um micromanipulador de gametas, procedimento denominado ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide).
Os embriões formados, são então transferidos ao útero materno após alguns dias de desenvolvimento.
Mulheres com infertilidade por endometriose, portanto, podem contar com a reprodução assistida para obter a gravidez, com percentuais de sucesso bastante expressivos.
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Clamídia: veja como é feito o diagnóstico
Por Prof. Dr. Gustavo André
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), podem ser causadas por vários agentes, como vírus, bactérias ou protozoários, e resultam em diferentes complicações para a saúde.
A clamídia, causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, é a mais prevalente, registrando altos índices de contaminação no mundo todo, principalmente nas populações mais jovens, entre 15 e 24 anos, independentemente da opção sexual, embora possa afetar qualquer pessoa sexualmente ativa.
Assim como os outros agentes infecciosos, a bactéria Chlamydia trachomatis é transmitida pelo sexo desprotegido com pessoas contaminadas, ou seja, sem o uso de preservativos de barreira, as camisinhas masculinas ou femininas.
No entanto, a transmissão pode ocorrer por qualquer tipo de contato com as secreções contaminadas, uma característica desse tipo de infecção, ainda que que não exista penetração, ou das mães aos seus filhos durante o parto e amamentação.
A disseminação da clamídia é fortemente associada à sua assintomatologia e, quando há presença de sintomas, alguns são inespecíficos, como a dor abdominal, e podem ser confundidos com outras condições, bem como se apresentam em intensidades diferentes em mulheres e homens, ou mesmo entre pessoas do mesmo sexo.
Assim, a clamídia tende ser descoberta quando a infecção já causou maiores danos, inclusive para a saúde reprodutiva, sendo apontada atualmente com um dos principais fatores de risco para infertilidade feminina e masculina.
O diagnóstico precoce é fundamental para a evitar as possíveis interferências na capacidade de engravidar, pois apesar de o tratamento ser bastante simples e proporcionar a cura, não repara os danos provocados pela infecção.
Acompanhe o texto até o final e veja como é feito o diagnóstico da clamídia, as interferências na saúde reprodutiva e as opções para engravidar quando resulta em infertilidade. Confira!
Diagnóstico da clamídia
Quando as pessoas infectadas pela bactéria Chlamydia trachomatis apresentam sintomas, eles são um importante alerta e contribuem para diagnosticar precocemente essa IST. Geralmente, têm início cerca duas semanas após a contaminação e o mais frequente, nos dois sexos, é a vontade urgente de urinar, que acontece por mais vezes do que o habitual e pode ser acompanhada da sensação de queimação e dor.
As mulheres com clamídia podem apresentar ainda:
- sangramento entre os períodos menstruais;
- corrimento amarelado e com odor forte;
- dor abdominal;
- dor durante ou logo após as relações sexuais (dispareunia);
- inchaço na vagina e ao redor do ânus;
- febre baixa.
Nos homens, por outro lado, os testículos podem inchar, ficar doloridos e sensíveis, ao mesmo tempo que pode haver irritação no ânus e sangramento retal.
- secreção peniana aquosa e leitosa;
- dor inchaço e sensibilidade nos testículos;
- irritação no ânus;
- sangramento retal.
Além dos sintomas, cujo acolhimento é feito na consulta inicial, com a percepção de alguns durante o exame físico, o diagnóstico é estabelecido após a realização de exames laboratoriais, que confirmam a presença da bactéria Chlamydia trachomatis, como os de sangue ou urina e a análise das secreções.
A característica assintomática da clamídia, entretanto, torna a infertilidade um dos sintomas mais evidentes e é exatamente a dificuldade de engravidar que normalmente leva à procura por auxílio médico. Assim, é comum que os exames inicialmente realizados para avaliar a fertilidade feminina e masculina também sejam solicitados.
A avaliação da reserva ovariana, é o exame solicitado às mulheres, pois permite indicar a quantidade de folículos presentes no momento, estruturas que contêm os óvulos imaturos, dos menores aos que possuem capacidade para posteriormente ovular, ou seja, liberar seu óvulo para ser fecundado pelo espermatozoide.
Os homens, nesse caso, devem realizar o espermograma, que permite a análise da qualidade do sêmen e dos espermatozoides abrigados nas amostras, apontando critérios como concentração, morfologia (forma) e motilidade (movimento).
Mesmo quando há quadro de infertilidade, quanto mais precocemente o diagnóstico for feito, maiores são as chances de sucesso do tratamento e menores as de possíveis complicações resultantes da permanência da bactéria.
Quais complicações a clamídia pode causar?
A principal consequência da clamídia é a DIP, doença inflamatória pélvica, caracterizada pela inflamação dos órgãos reprodutores.
Nas mulheres, por exemplo, as bactérias podem ascender da vagina ao útero e se espalhar para os outros órgãos.
No útero, podem causar endometrite, inflamação do endométrio, camada de revestimento na qual o embrião se implanta, evento que marca o início da gestação. Durante os ciclos menstruais o endométrio é preparado para recebê-lo e o processo inflamatório pode interferir nesse preparo, resultando em falhas na implantação e abortamento.
Aderências resultantes do processo inflamatório no útero, denominas sinequias uterinas, em maior quantidade podem causar ainda distorções na anatomia do órgão, dificultando ou impedindo a sustentação da gravidez, o que também resulta em perda.
Já nas tubas uterinas, órgãos que abrigam a fecundação, a inflamação, chamada salpingite, leva ao acúmulo de líquidos ou à formação de aderências que podem provocar obstruções, impedindo a captação dos óvulos e o transporte dos espermatozoides, dessa forma o encontro entre eles não acontece.
Nos ovários, ooforite, interfere no desenvolvimento, amadurecimento e rompimento dos folículos ovarianos para liberação do óvulo, provocando distúrbios de ovulação, como oligovulação, ovulação irregular e anovulação, ausência de ovulação, bem como interfere na qualidade dos óvulos.
Nos homens, por outro lado, a clamídia pode resultar na inflamação dos testículos, orquite, órgãos em que a produção dos espermatozoides acontece, interferindo nesse processo e levando a condições como a baixa concentração no sêmen, oligozoospermia ou ausência (azoospermia), causa comum de infertilidade masculina, além de também interferir na qualidade dos gametas.
Ou, atingir os epidídimos, epididimite, ductos em que amadurece após serem produzidos, provoca obstruções a partir da formação de aderências, que levam igualmente à redução ou ausência dos espermatozoides no sêmen.
Ainda que a clamídia possa causar diferentes complicações para a saúde reprodutiva de homens e mulheres, com o tratamento adequado é possível engravidar na maioria dos casos.
Tratamento da clamídia
A primeira abordagem de tratamento para a clamídia é a administração de antibióticos que provem a cura da infecção. Para evitar a reinfecção e a disseminação da bactéria a parceria sexual também deve ser investigada e tratada.
Nos casos em que a clamídia provoca a DIP, as aderências que resultam em bloqueios tubários ou nos epidídimos devem ser removidos por cirurgia, abordagem indicada ainda para correção de possíveis distorções anatômicas.
Após o tratamento, geralmente é possível engravidar naturalmente. Se isso não acontecer, a reprodução assistida pode auxiliar.
A fertilização in vitro com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide) é a técnica indicada nesses casos. Prevê a fecundação em laboratório, dispensando a função das tubas uterinas, precedida da coleta e seleção dos melhores óvulos e espermatozoides, contornando, assim, problemas de qualidade.
Além disso, nessa técnica cada espermatozoide é injetado diretamente no citoplasma do óvulo, aumentando as chances de sucesso quando há baixa em baixa concentração no sêmen. Homens com azoospermia, por outro lado, podem ter seus gametas coletados diretamente dos epidídimos ou dos testículos, posteriormente selecionados e utilizados na fecundação.
Após se desenvolverem por até seis dias em laboratório, os embriões formados são transferidos diretamente ao útero materno, com o endométrio devidamente preparado por medicamentos hormonais, se houver histórico de falhas e abortamento.
A FIV, portanto, aumenta bastante as chances de sucesso gestacional quando a infecção por clamídia provoca danos graves à fertilidade.
Compartilhe o texto nas redes sociais e informe aos seus amigos como a clamídia é diagnosticada e a importância de isso ser feito precocemente!
SOP: veja detalhes do tratamento e infertilidade
Por Prof. Dr. Gustavo André
Diferentes doenças podem afetar os órgãos reprodutores femininos durante a idade reprodutiva. A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma das mais frequentemente registradas nessa fase e uma causa comum de infertilidade feminina.
Isso porque, a SOP é um distúrbio endócrino, ou seja, tem como característica alterações nos níveis hormonais; a testosterona, principal hormônio masculino produzido em pequenas quantidades pelos ovários, está presente em concentrações mais altas na doença, condição denominada hiperandrogenismo, que interfere na saúde feminina de diferentes formas.
Além do risco de infertilidade, causa sintomas que comprometem a imagem corporal e a qualidade de vida, levando muitas vezes ao afastamento social e ao desenvolvimento de transtornos emocionais, como ansiedade de depressão.
No entanto, apesar de seus efeitos negativos, a SOP tem tratamento, possibilitando inclusive a gravidez se houver o desejo, bem como o alívio dos outros sintomas característicos da doença. O diagnóstico precoce contribui para o sucesso, minimizando as chances de possíveis danos à saúde reprodutiva.
Continue a leitura até o final, veja detalhes do tratamento e como essa doença comprometer a capacidade reprodutiva das mulheres. Confira
Como a SOP é diagnosticada?
Um recurso importante para garantir o diagnóstico precoce da SOP é a observação dos sintomas que a doença pode apresentar.
Os ciclos menstruais, processo em que o corpo feminino é preparado para uma possível gravidez, são coordenados por diferentes hormônios, cuja atuação é fundamental para que cada etapa ocorra adequadamente; interferências em uma naturalmente comprometem as outras.
Na fase inicial dos ciclos menstruais, por exemplo, as gonadotrofinas FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante), liberadas pela hipófise, atuam no crescimento, desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos, que contém o óvulo imaturo.
Enquanto o FSH estimula o crescimento de vários folículos, o LH induz o folículo dominante, que se destaca entre eles, ao amadurecimento e suas células a produzirem testosterona, convertida em estrogênio pelo FSH.
O estrogênio, promove o espessamento do endométrio, camada interna uterina na qual o embrião se implanta para dar início à gestação, que deve ser adequadamente preparada para recebê-lo se houver fecundação.
A elevação dos níveis de estrogênio, por sua vez, estimula o pico de LH na metade do ciclo menstrual, permitindo que ele induza o folículo dominante ao amadurecimento final e rompimento para liberação do seu óvulo na ovulação.
O desequilíbrio dos níveis de testosterona, portanto, compromete a produção de estrogênio e, assim, o amadurecimento final do folículo e a liberação do óvulo, tornando a ovulação irregular (oligovulação) ou ausente (anovulação).
Esses distúrbios ovulatórios são sinalizados por irregularidades menstruais; a menstruação pode ocorrer com frequência e volumes anormais, em intervalos superiores a 35 dias, o que é chamado oligomenorreia, ou ser ausente (amenorreia).
O excesso de hormônios andrógenos, além da infertilidade, leva ainda ao desenvolvimento de características tipicamente masculinas, como por exemplo:
- crescimento de pelos locais como seios, face ou costas;
- queda de cabelo com padrão masculino (alopecia);
- aumento da massa muscular;
- problemas dermatológicos como acne e seborreia;
- aumento do clitóris em alguns casos.
O diagnóstico da SOP é feito posteriormente a partir da realização de exames laboratoriais e de imagem, que devem comprovar critérios como:
- sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo;
- oligovulação (ovulação irregular) ou anovulação (ausência de ovulação);
- morfologia policística dos ovários, com a presença de 12 ou mais cistos medindo de 2 mm a 9 mm de diâmetro e/ou volume ovariano acima de 10 cm³.
A morfologia policística, apesar de determinar o nome da doença, nem sempre é um critério presente. Acontece quando os folículos que não cresceram, em vez de serem eliminados, acumulam nos ovários formando cistos. Por isso, o diagnóstico é estabelecido quando pelo menos dois dos critérios acima estiverem presentes.
Tratamento e reprodução assistida
O tratamento da SOP pode ser feito com medicamentos ou por técnicas de reprodução assistida, de acordo com o desejo da mulher de engravidar no momento.
Se não houver o desejo são prescritos medicamentos que aliviam os sintomas clínicos, incluindo anticoncepcionais orais e hormônios esteroides de ação antiandrogênica. Anticoncepcionais combinados são empregados com objetivo de suspender a ovulação, minimizando a exposição ao estrogênio e, consequentemente diminuindo os níveis androgênicos.
É comum que mulheres obesas tenham SOP, condição associada à resistência à insulina, um dos fatores desencadeadores da doença. Assim, mudanças no estilo de vida também fazem parte do tratamento, como alimentação adequada e a prática regular de exercícios físicos.
Embora a SOP seja uma doença crônica, ou seja, não tenha cura, essas medidas ajudam a aliviar e controlar os sintomas, permitindo a recuperação da qualidade de vida.
Quando o quadro é de infertilidade, por outro lado, e a mulher deseja engravidar duas técnicas de reprodução assistida podem ser indicadas:
Relação sexual programada (RSP)
A RSP é particularmente indicada para mulheres com distúrbios ovulatórios mais leves, quando a ovulação acontece de forma irregular (oligovulação). O tratamento é realizado em duas etapas, a primeira delas é a estimulação ovariana, procedimento em que medicamentos hormonais estimulam a função ovariana para que mais folículos se desenvolvam e amadureçam.
O objetivo é obter entre 1 e 4 óvulos maduros disponíveis para a fecundação, que acontece naturalmente nas tubas uterinas, por isso, elas devem estar saudáveis, assim como a mulher dever ter idealmente até 35 anos, idade em que os níveis da reserva ovariana, quantidade de folículos com capacidade para ovular, ainda estejam altos. Os espermatozoides do parceiro também devem estar dentro dos padrões de normalidade.
As mulheres já nascem com um estoque de folículos para serem utilizados durante a idade fértil. Assim, à medida que envelhecem, os folículos diminuem; os que não se desenvolveram nos ciclos menstruais, são naturalmente eliminados.
Periodicamente, são realizados exames de ultrassonografia transvaginal para acompanhar o desenvolvimento dos folículos, indicando o momento em que eles atingem o momento ideal para novos medicados induzirem o amadurecimento final e ovulação, permitindo, assim, programar as relações sexuais para o período de maior fertilidade, em que há mais chances de engravidar.
Embora seja uma técnica simples, a RSP é bastante eficaz quando bem indicada, proporcionando taxas de gestação semelhantes às da gestação espontânea.
Fertilização in vitro (FIV)
A FIV é a técnica mais complexa da reprodução assistida, além de reproduzir etapas da importantes da gravidez em laboratório, como a fecundação e o desenvolvimento inicial do embrião, reúne um conjunto de técnicas e procedimentos que permitem solucionar diferentes problemas reprodutivos, incluindo anovulação, ausência de ovulação, uma das principais características da SOP.
O tratamento também tem início com a estimulação ovariana, porém é realizado em mais etapas. Na estimulação ovariana, quando os medicamentos indutores são administrados, os folículos maduros são coletados por punção folicular, procedimento realizado com a utilização de uma seringa acoplada por uma agulha e guiado por ultrassom. Os óvulos são posteriormente extraídos em laboratório e os melhores selecionados.
Enquanto a mulher é submetida à estimulação ovariana, os espermatozoides são capacitados e selecionados pelo preparo seminal. Assim, apenas os melhores gametas participam da fecundação, realizada por ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), em que cada um é injetado diretamente no óvulo.
Os embriões formados, iniciam o desenvolvimento em laboratório, sendo transferidos ao útero em dois estágios de desenvolvimento, D3 ou clivagem, entre o segundo e terceiro dia, ou no blastocisto, entre o quinto e sexto dia.
A definição do melhor estágio para a transferência, considera critérios como a saúde dos embriões. Quando eles possuem a saúde mais frágil por exemplo, geralmente é recomendado que se desenvolvam em ambiente uterino. Após serem transferidos, as etapas seguintes acontecem como na gestação espontânea; o embrião se implanta no endométrio e iniciando o processo gestacional.
Aproveite para compartilhar esse texto nas redes sociais para que um número maior de mulheres conheça as opções de tratamento para SOP.
LH: o que é?
Por Prof. Dr. Gustavo André
Hormônios são substâncias químicas produzidas pelas glândulas que compõem o sistema endócrino, tecidos especializados e neurônios, que equilibram funções biológicas do corpo como metabolismo e crescimento, por exemplo, ou desenvolvimento das características sexuais secundárias e reprodução, o que acontece a partir da puberdade.
O processo reprodutivo, por sua vez, é coordenado pelo eixo hipotálamo-hipófise-gônadas, as glândulas sexuais de mulheres e homens, ovários e testículos, responsáveis pela produção dos gametas, óvulos e espermatozoides, células sexuais que carregam as informações genéticas.
O LH é um dos hormônios envolvidos nesse processo, cuja ação é particularmente importante para a fertilidade feminina. Continue a leitura até o final e entenda como ele atua no ciclo reprodutivo das mulheres, como o desequilíbrio dos seus níveis pode comprometer a capacidade reprodutiva das mulheres, resultando em infertilidade e quais condições podem estar associadas à essa alteração. Confira!
O que é LH e qual a sua função na fertilidade das mulheres?
LH é a sigla para hormônio luteinizante, assim como o FSH (hormônio folículo-estimulante) é uma das gonadotrofinas, hormônios proteicos liberados pela hipófise no início de cada ciclo menstrual em resposta à secreção pulsátil do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo.
O ciclo menstrual ou reprodutivo das mulheres começa na puberdade com a primeira menstruação. Ocorre de forma contínua durante a fase fértil, que se encerra na menopausa. É dividido em três fases, folicular, ovulatória e lútea, o LH participa de todas, embora seus níveis naturalmente sofram variações.
Na fase folicular, O FSH estimula o recrutamento e crescimento de vários folículos ovarianos, estruturas que contêm o óvulo imaturo. No entanto, apenas um entre eles se destaca; conhecido como folículo dominante, se desenvolve e amadurece pela ação do LH, que também estimula as células da teca, que compõem a parte externa, a produzirem testosterona, convertida pelo FSH em estrogênio, principal hormônio sexual feminino.
O estrogênio inicia então o preparo do endométrio, tecido que reveste internamente o útero, tornando-o mais espesso e vascularizado para receber o embrião que pode ser formado na fecundação. A implantação ou nidação, evento em que se fixa ao endométrio, marca o início da gravidez.
Na segunda fase do ciclo menstrual o LH atinge seu pico, induzindo o folículo dominante ao amadurecimento e rompimento para liberação do óvulo na ovulação. O óvulo é captado pelas tubas uterinas, órgãos em que a fecundação acontece e aguarda por 24h o encontro com o espermatozoide. Esse é considerado o período de mais fertilidade das mulheres, e a medida dos níveis de LH ajuda a reconhecê-lo.
Na última fase do ciclo menstrual, a lútea, o LH permanece atuando nas células resquiciais do folículo rompido, que se transformam em uma glândula endócrina temporária conhecida como corpo-lúteo, cuja função é a secreção de progesterona, hormônio que finaliza o preparo endometrial.
Durante as primeiras semanas da gravidez, o LH continua a sustentar a função do corpo do lúteo até a formação da placenta, que passa a assumir a produção da progesterona. Se não houver fecundação, por outro lado, os níveis hormonais diminuem levando à descamação do endométrio e menstruação, que marca o início de um novo ciclo menstrual.
O equilíbrio dos níveis de LH, portanto, é fundamental para o sucesso gestacional e, consequentemente, para a fertilidade feminina. Alterações, podem dificultar ou impedir a gravidez.
Quais as consequências do desequilíbrio de LH para a fertilidade das mulheres?
O desequilíbrio dos níveis de LH, ou seja, quando há excesso ou diminuição das concentrações do hormônio, pode comprometer a liberação do óvulo, a produção de estrogênio, a formação do corpo-lúteo e, assim, a gravidez.
Se o óvulo não for liberado a fecundação não acontece, enquanto a produção inadequada de estrogênio e progesterona, secretada pelo corpo lúteo, interferem no preparo do endométrio, o que provoca falhas e abortamento. Veja abaixo o que o excesso ou diminuição das concentrações de LH pode indicar:
- níveis baixos de LH: a produção insuficiente do hormônio luteinizante pode indicar uma condição conhecida como hipogonadismo, que tem como característica a produção inadequada de hormônios sexuais, como o estrogênio nas mulheres e a testosterona nos homens. No sexo feminino, pode ter origem genética, ser consequência de doenças autoimunes, da obesidade ou de outros distúrbios hormonais não tratados, como o hipotireoidismo, além de hábitos como a prática excessiva de exercícios físicos;
- níveis altos de LH: é normal a mulher apresentar níveis altos do hormônio luteinizante durante a fase ovulatória ou na menopausa, porém, quando permanecem constantemente altos podem indicar condições como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), comum durante a fase reprodutiva, ou a falência ovariana prematura (menopausa precoce), em que há falência da função ovariana antes dos 40 anos.
Essas condições têm em comum distúrbios ovulatórios como oligovulação (poucas ovulações), ovulação irregular que acontece apenas em alguns ciclos anuais e anovulação, ausência total de ovulação. Podem ser percebidos por alterações no fluxo menstrual, como a diminuição do volume e frequência (oligomenorreia) ou ausência da menstruação (amenorreia).
Porém, apesar de o desequilíbrio de LH resultar em diversos fatores de infertilidade feminina, em boa parte dos casos o tratamento primário das causas que provocaram o problema possibilita a gravidez espontânea quando há o desejo.
A reprodução assistida está entre as opções iniciais, bem como pode ser alternativa quando outros tratamentos não são bem-sucedidos.
Reprodução assistida
Hoje, três técnicas de reprodução assistida estão disponíveis para o tratamento da infertilidade. A indicação da mais adequada em cada caso, considera critérios como a gravidade do quadro, os níveis da reserva ovariana (quantidade de folículos com capacidade para ovular), outros fatores de infertilidade envolvidos, femininos ou masculinos.
Nas técnicas de menor complexidade, relação sexual programada (RSP) e inseminação artificial (IA), a fecundação acontece como na gestação espontânea, nas tubas uterinas. Dessa forma, além de ser fundamental que elas estejam permeáveis, sem obstruções, a mulher também deve ter bons níveis de reserva ovariana, que naturalmente diminuem com o envelhecimento, sendo mais altos até os 35 anos.
Isso porque, o tratamento com todas as técnicas inicia com a estimulação ovariana, procedimento particularmente necessário quando há distúrbios ovulatórios, realizado com medicamentos hormonais que estimulam a função ovariana e o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos durante o ciclo menstrual.
No entanto, como a fecundação acontece de forma natural, os ciclos são minimamente estimulados para obter entre 1 e 4 óvulos disponíveis.
Na RSP, além da estimulação ovariana o objetivo do tratamento é programar o melhor período para intensificar as relações sexuais e aumentar as chances de sucesso, por isso os espermatozoides do parceiro devem estar saudáveis. Por isso, a RSP é indicada quando a infertilidade é apenas feminina, provocada por distúrbios ovulatórios mais leves, como a oligovulação.
Já a IA, permite também o tratamento quando há fatores masculinos de menor gravidade, como pequenas alterações na morfologia (forma) ou motilidade (movimento) dos espermatozoides, uma vez que os melhores são selecionados por técnicas de preparo seminal, inserido em um cateter e depositados no útero durante o período fértil.
Às mulheres acima dos 36 anos ou que apresentam quadros de infertilidade em que diferentes fatores comprometem a capacidade reprodutiva, como obstruções tubárias ou abortamento repetido consequente de falhas na implantação do embrião, é indicado o tratamento com a fertilização in vitro (FIV), técnica mais complexa.
Na FIV, a fecundação e o desenvolvimento inicial dos embriões acontecem em ambiente laboratorial. Os medicamentos utilizados na estimulação ovariana, portanto, são administrados em dosagens mais altas para obter uma quantidade maior de óvulos. Os folículos maduros são coletados por punção folicular, seus óvulos extraídos e selecionados.
Os espermatozoides do parceiro também são selecionados pelo preparo seminal, dessa forma, apenas os melhores gametas participam da fecundação. Os embriões formados, após se desenvolverem por alguns dias são diretamente transferidos ao útero materno.
Antes da transferência, quando há histórico de falhas na implantação e abortamento, o endométrio pode ser ainda adequadamente preparado por medicamentos hormonais.
Mulheres em que os ovários entraram em falência precocemente podem contar com a doação de óvulos. Os embriões, nesse caso, são formados com óvulos de doadoras e espermatozoides do parceiro e posteriormente transferidos ao seu útero.
Avaliar os níveis de LH, portanto, é um recurso importante para as mulheres em tentativa de engravidar, pois ao mesmo tempo que indicam o período de maior fertilidade, podem sinalizar problemas que impedem ou dificultem a gravidez. Compartilhe esse texto nas redes sociais para que mais pessoas sejam informadas sobre a importância desse hormônio!
Endometriose: veja em detalhes como é feito o tratamento
Por Prof. Dr. Gustavo André
Maior e principal órgão do sistema reprodutor feminino, o útero é dividido em três camadas de revestimento, duas delas participam do processo gestacional; endométrio, a interna e miométrio, a intermediária.
Endométrio é um tecido epitelial composto por glândulas, estromas e vasos sanguíneos. Altamente vascularizado, possui duas camadas, uma basal, que se liga ao útero, e uma funcional, que sofre variações durante o ciclo menstrual.
Desde o início do ciclo menstrual, o endométrio é preparado pelo estrogênio, principal hormônio feminino, para receber um possível embrião. A camada funcional se torna mais espessa e vascularizada, proporcionando um ambiente adequado para que ele possa se implantar.
Implantação é o processo em que se fixa ao endométrio iniciando a gestação. Se a fecundação não ocorrer, ou seja, se o espermatozoide não penetrar o óvulo formando o embrião, a camada funcional descama originando a menstruação, que marca o começo de um novo ciclo menstrual.
Endometriose é uma das doenças relacionadas ao endométrio. Pode causar sintomas dolorosos, que comprometem a qualidade de vida das portadoras, bem como infertilidade. É, inclusive, apontada atualmente como a principal causa de infertilidade feminina. No entanto, os sintomas podem ser aliviados e a gravidez obtida com o tratamento adequado na maioria dos casos. Continue a leitura até o final e veja em detalhes como é feito. Confira!
O que é endometriose?
Uma doença inflamatória e crônica, a endometriose tem como característica o crescimento anormal de um tecido semelhante ao endométrio fora do útero, geralmente em locais próximos como peritônio, ovários, tubas uterinas, bexiga e intestino.
É estrogênio-dependente, o que significa que se desenvolve motivada pela ação desse hormônio durante os ciclos menstruais, embora isso aconteça geralmente de forma lenta. A exposição prolongada ao estrogênio é considerada fator de risco para o surgimento da doença, afetando particularmente as mulheres nulíparas, que nunca tiveram filhos.
Ainda que a causa exata da endometriose não seja conhecida pela ciência, entre as teorias que surgiram desde que foi descrita pela primeira vez, no século XIV, a da menstruação retrógada, proposta pelo ginecologista norte americano Albert Sampson, permanece como a mais aceita pela comunidade científica.
Nesse fenômeno, parte do sangue menstrual, em vez de ser eliminado completamente pelo útero para vagina, retornaria pelas tubas uterinas. Sampson sugere que os fragmentos do endométrio naturalmente eliminados pela menstruação, também retornam junto com o sangue e se implantam em outros locais. O local de crescimento, assim como a profundidade dessas lesões são fatores considerados para a classificação da doença.
Por exemplo, quando são rasas e estão presentes apenas no peritônio, membrana que recobre a cavidade pélvica e os órgãos nela abrigados, é classificada como endometriose peritoneal superficial; se forem mais profundos, infiltrativa profunda; e, quando afeta os ovários, ovariana.
Além de serem fatores para classificação da doença, local de crescimento e profundidade são ainda determinantes dos possíveis sintomas manifestados, geralmente severos, incluindo infertilidade. Porém, muitas mulheres são assintomáticas, principalmente nos estágios iniciais, dificultando o diagnóstico precoce.
Sintomas e diagnóstico da endometriose
A falta de sintomas da endometriose e o desenvolvimento geralmente lento são características que normalmente levam ao diagnóstico tardio. Para se ter uma ideia, é comum que as mulheres descubram a doença anos após o início, quando os sintomas tendem a ser mais severos e já causou maiores danos à saúde geral e reprodutiva.
O principal sintoma que alerta para sua presença é a dor pélvica crônica, inicialmente se manifesta como cólicas severas antes e durante a menstruação, no entanto, com o desenvolvimento da doença passa a ocorrer também fora do período menstrual e pode ser incapacitante, interferindo nas atividades do dia a dia.
Dor durante as relações sexuais (dispareunia) e alterações nos hábitos intestinais ou urinários, como micção urgente e frequente e constipação cíclica (no período menstrual) estão ainda entre as possíveis manifestações.
A infertilidade é igualmente considerada um sintoma, e pode ocorrer desde os estágios iniciais, sendo, nesse caso, o principal indicativo da doença. Normalmente, é consequência do processo inflamatório provocado pela presença do tecido ectópico, que pode interferir no preparo endometrial provocando falhas na implantação e abortamento, ou comprometer o desenvolvimento e amadurecimento dos folículos ovarianos, resultando em distúrbios de ovulação.
Nos estágios mais avançados, por outro lado, outras interferências mais graves podem ocorrer. Os endometriomas, cistos ovarianos formados por tecido ectópico e sangue envelhecido, em tamanhos maiores causam danos aos folículos ao redor, comprometendo a reserva ovariana, o que pode resultar em infertilidade permanente.
Já nas tubas uterinas, o tecido ectópico impede a captura do óvulo, o transporte dos espermatozoides ou do embrião formado ao útero para se implantar, efeitos igualmente provocados por aderências consequentes do processo inflamatório.
O exame padrão para diagnosticar a endometriose é a ultrassonografia transvaginal com preparo especial, que diagnostica com bastante precisão a localização e profundidade dos implantes, bem como permite a diferenciar os endometriomas de outras massas. Outros exames podem ser ainda solicitados de forma complementar, como a ressonância magnética e a histerossalpingografia.
Os resultados diagnósticos orientam o tratamento mais adequado em cada caso, inclusive se houver quadro de infertilidade.
Entenda como é feito o tratamento da endometriose
O tratamento da endometriose considera, ainda, o desejo da mulher de engravidar no momento e a severidade dos sintomas, cuja intensidade pode variar entre as portadoras, independentemente da quantidade de tecido ectópico presente.
Às mulheres com sintomas mais leves, que não desejam engravidar, são prescritos medicamentos hormonais para suspensão da menstruação. Dessa forma, a ação do estrogênio é minimizada, aliviando-os.
Se forem mais severos ou a mulher desejar engravidar, a cirurgia se torna a principal opção. O procedimento é realizado por videolaparoscopia, técnica minimamente invasiva, e tem como objetivo a remoção de implantes, endometriomas maiores ou aderências que podem se formar como consequência do processo inflamatório.
Se for necessária a remoção de endometriomas, geralmente é recomenda a preservação da fertilidade antes do procedimento, o que é feito pelo congelamento de óvulos, utilizados posteriormente no tratamento por fertilização in vitro (FIV), principal técnica de reprodução assistida em que a fecundação é realizada em laboratório.
Isso porque, mesmo quando os profissionais têm grande experiência, há o risco de o processo de remoção danificar os folículos localizados ao redor, levando à redução dos níveis da reserva ovariana.
Assim, a cirurgia é opção apenas quando a mulher tem uma boa reserva ovariana e se não existirem outros fatores de infertilidade associados, como obstruções tubárias marcantes ou alterações nos espermatozoides do parceiro. Para esses casos, é indicado o tratamento por reprodução assistida.
Reprodução assistida
Mulheres com até 35 anos, idade em que os níveis da reserva ovariana ainda estão altos, tubas uterinas permeáveis, endometriose nos estágios iniciais e infertilidade por distúrbios de ovulação leves, podem ter a gravidez inicialmente auxiliada pela relação sexual programada (RSP).
O tratamento por RSP prevê a estimulação ovariana, procedimento que estimula os ovários com medicamentos hormonais para obter de 1 a 4 óvulos disponíveis e a programação do período de maior fertilidade para intensificar a relação sexual. Ou seja, a fecundação acontece naturalmente, nas tubas uterinas, por isso os espermatozoides do parceiro devem estar saudáveis.
Para mulheres acima de 35 anos, com baixos níveis de reserva ovariana e/ou outros fatores de infertilidade envolvidos, é indicado o tratamento por FIV, que utiliza protocolos de medicamentos para diminuir o efeito inflamatório que a doença provoca e contorna diferentes problemas de infertilidade consequentes da endometriose.
Na FIV, após a fecundação os embriões formados se desenvolvem por alguns dias em laboratório e são transferidos diretamente ao útero materno.
O tratamento da endometriose, portanto, permite desde o alívio dos sintomas à obtenção da gravidez. Compartilhe esse texto nas redes sociais para que seus amigos também vejam em detalhes como é feito!
FSH: o que é?
Por Prof. Dr. Gustavo André
Diferentes hormônios regulam a função dos órgãos reprodutores, garantindo, assim, que a gravidez seja um processo bem-sucedido. Entre eles estão o FSH, LH e os sexuais, estrogênio, progesterona e testosterona, responsáveis também pelo desenvolvimento das características sexuais secundárias de mulheres e homens na puberdade.
Esses hormônios, por sua vez são coordenados por um sistema denominado eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HHG). O hipotálamo é uma região do sistema nervoso central, responsável por produzir hormônios que estimulam a ação da hipófise (ou pituitária), glândula localizada na base do cérebro, enquanto as gônadas, ovários e testículos, respondem pelo desenvolvimento e produção dos gametas, as células sexuais, óvulos e espermatozoides.
Esse texto aborda o FSH, destacando seu papel no processo reprodutivo e as consequências de alterações em seus níveis para a fertilidade. Acompanhe a leitura até o final e confira!
FSH
FSH é a sigla para hormônio folículo-estimulante. Como o LH (hormônio luteinizante), é uma das gonadotrofinas, hormônios produzidos e liberados pela hipófise: o hipotálamo secreta o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), estimulando a hipófise a produzir as gonadotrofinas, que ao viajarem pela corrente sanguínea encontram receptores nos ovários e testículos.
Nas mulheres, o FSH estimula o crescimento dos folículos ovarianos, que contêm os óvulos imaturos, e o aumento da produção de estrogênio, enquanto nos homens atua na produção de espermatozoides, processo conhecido como espermatogênese.
Entenda como o FSH atua nos sistemas reprodutores de homens e mulheres:
Atuação do FSH no sistema reprodutor feminino
Na puberdade, tem início o ciclo menstrual feminino, processo em que diferentes alterações fisiológicas preparam o corpo para uma possível gravidez. Começa no primeiro dia da menstruação e se encerra no anterior à próxima, ocorrendo de forma contínua até a menopausa.
O ciclo menstrual pode ser divido em três etapas, e o FSH tem importante atuação na primeira delas, denominada folicular; promove o recrutamento e crescimento de vários folículos ovarianos, para que um deles se torne dominante, desenvolva e amadureça o suficiente liberando o óvulo, também maduro, na ovulação.
O amadurecimento final e rompimento do folículo dominante é induzido pelo LH, que também estimula as células foliculares a produzirem testosterona, convertida pelo FSH em estrogênio, hormônio que inicia o preparo do endométrio, camada que reveste o útero internamente na qual o embrião se implanta, evento que marca o início da gravidez.
Atuação do FSH no sistema reprodutor masculino
Desde a puberdade, os espermatozoides são produzidos nos túbulos seminíferos, estruturas enoveladas localizadas nos lóbulos testiculares. Quando as gonadotrofinas atingem os testículos, o LH atua nas células de Leydig, localizadas entre os túbulos, estimulando a produção de testosterona, hormônio essencial para espermatogênese.
O FSH, por sua vez, atua nas células de Sertoli, que revestem internamente os túbulos, região em que ficam localizadas células percussoras dos gametas masculinos, denominadas espermatogônias. Na pré-puberdade o FSH estimula a diferenciação das espermatogônias e na fase adulta a manutenção da espermatogênese.
O equilíbrio dos níveis de FSH, portanto, é fundamental para a fertilidade de mulheres e homens, alterações podem comprometer etapas essenciais do processo reprodutivo, impedindo a gravidez.
Nas mulheres, níveis elevados de FSH, por exemplo, são um indicativo de que ovários não estão respondendo adequadamente ao estímulo hormonal, para compensar a hipófise aumenta a secreção desse hormônio. Sinalizam para uma condição conhecida como falência ovariana prematura (FOP) ou menopausa precoce, em que os ovários entram em falência antes dos 40 anos de idade.
Níveis baixos, por outro lado, comprometem o recrutamento e crescimento dos folículos, assim, a mulher não ovula e não há fecundação.
Já nos homens, níveis baixos de FSH resultam em baixa produção dos espermatozoides, condição conhecida como oligozoospermia ou na ausência deles no sêmen, azoospermia, causas comuns de infertilidade masculina.
Infertilidade e reprodução assistida
Mulheres com distúrbios de ovulação e homens com baixa concentração ou ausência de espermatozoides no sêmen podem contar com a reprodução assistida para engravidar. A técnica mais indicada nesses casos é a fertilização in vitro com ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide), em que a fecundação é realizada em laboratório.
A primeira etapa do tratamento é a estimulação ovariana, procedimento em que são utilizados medicamentos hormonais sintéticos, semelhantes aos naturais, para estimular o desenvolvimento de mais folículos, coletados quando maduros para posterior extração e seleção dos melhores óvulos.
Os melhores gametas masculinos também são selecionados por técnicas de preparo seminal e, se não estiverem presentes no sêmen (azoospermia), podem ser coletados diretamente dos testículos ou dos epidídimos, ductos em que são armazenados após a produção.
Durante a fecundação, cada espermatozoide é injetado no citoplasma dos óvulos, aumentando ainda as chances de sucesso quando há baixa produção.
Os embriões formados na fecundação são posteriormente cultivados por alguns dias e depois transferidos diretamente ao útero materno. A gravidez pode ser confirmada cerca de duas semanas após a transferência. Os percentuais de sucesso registrados pela técnica são os mais altos da reprodução assistida, porém, caso ocorram falhas, o tratamento pode ser novamente repetido.
Agora que você já sabe o que é FSH e sua importância para a fertilidade de mulheres e homens, compartilhe o texto nas redes sociais para que seus amigos também fiquem informados!
Técnicas de reprodução assistida: o que são?
Por Prof. Dr. Gustavo André
O sucesso gestacional depende de diversos elementos, por exemplo, o funcionamento normal dos órgãos reprodutores de homens e mulheres, a saúde dos gametas ou células sexuais (óvulos e espermatozoides) e o equilíbrio dos hormônios envolvidos no processo reprodutivo. Qualquer alteração pode resultar em infertilidade conjugal.
Apesar de esse ser um problema comum a milhões de pessoas no mundo todo, uma vez que, como consequência dos hábitos das sociedades contemporâneas a fertilidade naturalmente diminuiu ao longo dos anos, hoje tem solução na maioria dos casos.
A reprodução assistida é considerada o tratamento padrão e reúne um conjunto de técnicas que permitem a gravidez quando há dificuldades. A mais adequada em cada caso é definida após o casal passar por uma investigação detalhada, pois os fatores de infertilidade podem ser femininos, masculinos ou de ambos.
Este texto aborda sobre as principais técnicas de reprodução assistida disponíveis atualmente, destacando o funcionamento, indicação e taxas de sucesso de cada uma. Continue a leitura até o final e confira!
Técnicas de reprodução assistida
As técnicas de reprodução assistida são procedimentos realizados com auxílio médico, que ajudam a engravidar quando os tratamentos primários não são bem-sucedidos, bem como podem ser utilizadas como primeira opção.
Envolvem processos que variam da manipulação de gametas e meios de fecundação, ao desenvolvimento e transferência de embriões. Por isso, são classificadas de acordo com a complexidade, critério que também influencia na indicação.
Hoje, as três principais técnicas de reprodução assistida disponíveis são a relação sexual programada (RSP), a inseminação artificial (IA) e a fertilização in vitro (FIV). Conheça-as detalhadamente abaixo:
Fertilização in vitro (FIV)
A FIV é a principal técnica de reprodução assistida. De alta complexidade, é conhecida popularmente desde os anos 1970, quando nasceu o primeiro bebê concebido com sua utilização. Prevê a fecundação em laboratório com posterior transferência dos embriões formados diretamente ao útero materno após alguns dias de desenvolvimento.
Etapas importantes da gravidez, a fecundação e o cultivo embrionário são realizadas de forma controlada, permitindo contornar diferentes problemas de infertilidade. Na fecundação, por exemplo, são utilizados apenas os melhores óvulos e espermatozoides, previamente coletados e selecionados.
O tratamento inicia com a estimulação ovariana, procedimento em que medicamentos hormonais sintéticos, semelhantes aos naturais, são administrados para estimular a função ovariana e obter mais óvulos maduros. No ciclo menstrual natural, embora vários folículos, que contêm o óvulo imaturo, cresçam, apenas um se desenvolve e amadurece o suficiente para liberá-lo na ovulação.
O desenvolvimento dos folículos é acompanhado periodicamente por exames de ultrassonografia transvaginal, permitindo indicar o momento ideal para que novos medicamentos os induzam ao rompimento, o que acontece em aproximadamente 36 horas, período em que os folículos maduros são coletados por aspiração folicular, os óvulos extraídos e selecionados.
Enquanto os folículos são coletados, as amostras de sêmen do parceiro são submetidas ao preparo seminal, técnica que promove a capacitação dos espermatozoides por diferentes métodos, selecionando, dessa forma, apenas os mais saudáveis. Essa é a segunda etapa do tratamento, seguida da fecundação.
Atualmente, fecundação é feita por ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoide) na maioria das clínicas de reprodução assistida no mundo todo. Nessa técnica, incorporada à FIV na década de 1990, cada espermatozoide é injetado diretamente no citoplasma do óvulo, permitindo solucionar problemas masculinos de maior gravidade, como alterações severas na morfologia e motilidade dos gametas masculinos, bem como a baixa concentração no sêmen.
Na etapa seguinte, conhecida como cultivo embrionário, os embriões formados são acomodados em incubadoras, em meios de cultura que simulam o ambiente natural, possibilitando, assim, o desenvolvimento por até seis dias.
O tratamento finaliza com a transferência dos embriões diretamente ao útero materno para que a implantação, quando se fixa ao endométrio dando início à gestação, aconteça naturalmente.
A FIV proporciona a gravidez em várias situações, solucionando necessidades reprodutivas como fatores de infertilidade de maior gravidade, gravidez de pessoas solteiras e casais homoafetivos, bem como ajuda a evitar a transmissão de doenças genéticas às futuras gerações. Registra as taxas mais altas entre as técnicas de reprodução assistida, em média 50% por ciclo.
Inseminação artificial (IA)
Também chamada de inseminação intrauterina (IIU), é uma das técnicas de reprodução assistida de baixa complexidade, pois prevê a fecundação de forma natural, nas tubas uterinas, órgãos que fazem a ligação entre o útero e os ovários.
A cada ciclo menstrual um óvulo é liberado pelos ovários, captado pelas tubas, aguarda o encontro com os gametas masculinos que viajam pela extremidade oposta, por até 24h.
Realizado em três etapas, o tratamento também inicia com a estimulação ovariana e o preparo seminal. Porém, são administradas dosagens mais baixas de medicamentos hormonais para obter entre 1 e 4 óvulos maduros.
Após o preparo seminal, os melhores espermatozoides são inseridos em um cateter e depositados no útero durante o período fértil da parceira na última etapa, apontado pelos exames de ultrassonografia transvaginal.
A IA é a mais antiga das técnicas de reprodução assistida e permite solucionar fatores de infertilidade masculina de menor gravidade, como pequenas alterações nos espermatozoides e dificuldades ejaculatórias e, femininos, incluindo problemas no muco cervical e de ovulação, particularmente a irregular, que ocorre apenas em alguns poucos ciclos anuais, condição denominada oligovulação.
É, ainda, uma das técnicas que podem ser utilizadas por casais homoafetivos femininos ou mulheres solteiras que desejam engravidar, que contam com a doação de espermatozoides para realizar o tratamento.
No entanto, é preciso observar alguns critérios para utilização da técnica. As tubas uterinas devem estar permeáveis, sem nenhum tipo de obstrução, bem como idealmente a reserva ovariana deve apresentar níveis altos, o que a torna indicada principalmente às mulheres com até 37 anos.
As taxas de sucesso gestacional acompanham as da gestação natural: cerca de 15% a 30% por ciclo de tratamento.
Relação sexual programada (RSP) ou coito programado (CP)
Como a IA, a RSP também prevê a fecundação de forma natural, ou seja, é uma técnica de reprodução assistida de baixa complexidade, a mais simples entre todas. A estimulação ovariana é igualmente parte do tratamento, cujo objetivo, como o nome indica é programar o melhor período para intensificar a relação sexual, aumentando as chances de a concepção ser um sucesso.
Geralmente, a RSP é a primeira indicação para mulheres com distúrbios de ovulação mais leves, porém os espermatozoides do parceiro devem estar dentro dos padrões de normalidade, pois nessa técnica não há manipulação desses gametas. Critérios como permeabilidade tubária e idade feminina são os mesmos determinados para utilização da IA, bem como as taxas de sucesso.
As técnicas de reprodução assistida, portanto, podem solucionar diversas necessidades reprodutivas, tornando-se, dessa forma, um importante recurso nas sociedades contemporâneas. Compartilhe esse texto nas redes sociais e informe também aos seus amigos!